Aves sem asas, moas tinham bom olfato e visão ultravioleta

Pela 1ª vez, cientistas conseguiram o DNA quase completo da ave, que vivia na Nova Zelândia e foi extinta

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São Carlos (SP)

Uma equipe internacional de cientistas obteve pela primeira vez o DNA quase completo de um moa, membro de um enigmático grupo de aves não voadoras de grande porte que dominava os ambientes terrestres da Nova Zelândia antes da chegada dos seres humanos por lá.

O rascunho do genoma (conjunto do material genético) traz pistas sobre as capacidades visuais e olfativas dos bichos e sobre o tamanho de sua população, mas ainda não é o suficiente para entender como os moas ficaram totalmente sem asas (uma das características mais marcantes do grupo).

A imagem mostra dois esqueletos de aves em fundo branco, um de frente e outro de perfil, destacando a estrutura óssea e a postura característica dos animais
Esqueletos de moas, ave que vivia na Nova Zelândia e acabou extinta - Wikimedia

Embora alguns deles chegassem a 3,5 m de altura e ultrapassassem os 200 kg, os dados genômicos vêm de uma espécie mais modesta, o Anomalopteryx didiformis, também conhecido como moa-do-mato-pequeno. Ele alcançava no máximo cerca de 1 m e 30 kg.

A equipe de pesquisadores, coordenada por Scott Edwards, da Universidade Harvard (EUA), analisou tanto o DNA do núcleo das células da ave quanto o mtDNA ou DNA mitocondrial, material genético presente apenas nas mitocôndrias, as usinas de energia celulares (importante para mapear a linhagem materna de um animal).

Conforme explicam em artigo que acaba de sair na revista especializada Science Advances, Edwards e companhia usaram como guia o genoma completo de um parente atual dos moas, o emu (Dromaius novaehollandiae), nativo da Austrália. O genoma do emu funcionou como a "cola" de um quebra-cabeças, ajudando os cientistas a colocar as peças fragmentadas do DNA do moa em seus devidos lugares.

Moas e emus, assim como as emas e os avestruzes, são todos membros de um grande grupo de aves que, por caminhos separados, adotaram a vida não voadora. A grande ironia, porém, é que os parentes vivos mais próximos dos moas ainda voam. Inclusive, são bichos bem conhecidos dos brasileiros, como os inhambus e macucos.

Mesmo nesse caso, porém, o parentesco não é tão próximo. Calcula-se que a linhagem das espécies hoje presentes no Brasil tenha se separado da dos moas há mais de 50 milhões de anos, o que se explica pelo longo isolamento da Nova Zelândia (e também o da América do Sul, que foi uma grande ilha até poucos milhões de anos atrás).

A equipe estima que o genoma do moa-do-mato-pequeno tivesse pouco mais de 1 bilhão de "letras" químicas (mais ou menos um terço do tamanho do genoma humano). A diversidade genética da espécie, estimada a partir de coisas como as diferentes versões do mesmo trecho de DNA no indivíduo estudado (o que indica que seus pais tinham diferenças genéticas significativas entre si), permitiu que os pesquisadores calculassem que sua população era de no mínimo 250 mil indivíduos.

O número real provavelmente era maior porque esse número é o do "tamanho efetivo populacional" – grosso modo, corresponde aos indivíduos que estavam tendo sucesso reprodutivo (gerando filhotes).

O genoma indica ainda que a espécie tinha bom olfato e uma visão capaz de enxergar a porção ultravioleta do espectro luminoso –capacidade comum em aves, mas que parece quase sobrenatural para os seres humanos.

Por outro lado, apesar de vasculharem diferentes regiões do DNA e as compararem com as de outras aves que não voam, os pesquisadores não chegaram a identificar algum indício claro de como, ao longo da sua evolução, os moas perderam totalmente suas asas. Vale lembrar que aves aparentadas de anatomia similar, como as emas e os avestruzes, ainda mantêm essas estruturas.

Tudo indica que essa e as outras oito espécies de moas da Nova Zelândia foram caçadas até a extinção a partir do ano 1200 d.C., quando os ancestrais dos maoris chegaram ao arquipélago –eles foram os primeiros seres humanos a pisar naquelas terras.

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