Descrição de chapéu The New York Times

Cobras sangram pela boca e se fingem de mortas para escapar de presa

Pesquisadores agarram e avançam contra animais para avaliar como eles agem para se defender

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Asher Elbein
The New York Times

A maioria das cobras foge ou luta quando atacada. Mas há as cobra-dado da Ilha de Golem Grad, na Macedônia do Norte. Agarrada por um predador, elas se contorcem, sujando-se com um coquetel de almíscar e fezes. No fim, elas ficam inertes, com a boca aberta e a língua para fora. Para convencer de que estão mortas, algumas até sangram pela boca.

Assim como baldes de sangue falso podem ajudar a vender uma luta pouco convincente no palco ou na tela, o uso de fluidos repugnantes pelas cobras pode ser a chave para uma performance de morte convincente, de acordo com uma pesquisa publicada no último dia 8 no jornal Biology Letters.

Diversas espécies em todo o reino animal fingem estar mortas quando incomodadas por um predador, incluindo insetos, peixes e anfíbios. Até mamíferos fazem isso.

Cobras analisadas em estudo se fingem de mortas - NYT

"Essa performance pode ser um cenário de 'alto risco, alta recompensa'", disse Vukasin Bjelica, estudante de doutorado na Universidade de Belgrado e autor do estudo.

Alguns predadores ficam confusos —ou até mesmo enojados— com animais que repentinamente ficam imóveis, especialmente quando esses animais estão fedendo e sangrando. Outros podem parar de prestar atenção e afrouxar sua presa, dando tempo para que escape. Mas isso requer que o intérprete fique imóvel perto de um animal interessado em comê-lo. A presa, portanto, tem um forte incentivo para tentar reduzir o tempo gasto fingindo estar morta.

A pesquisa de Bjelica concentra-se em cobras Natrix tessellata, espécie não venenosa que adora peixes é encontrada desde a Europa Ocidental até o oeste da China. A espécie como um todo possui uma variedade de técnicas defensivas, incluindo morder, inchar e achatar suas cabeças para parecerem com uma cobra venenosa. Mas as da ilha de Golem Grad, cujos principais predadores são aves, frequentemente fingem estar mortas.

Cobras analisadas em estudo não são venenosas, adoram peixes e são encontradas desde a Europa Ocidental até o oeste da China - Jozef Kaut via NYT

A equipe de pesquisa liderada por Bjelica capturou e testou 263 cobras, avançando sobre elas e agarrando-as pela metade para provocar a mais ampla gama de comportamentos defensivos. Sem machucá-las, eles as seguraram, as apertaram suavemente e as esticaram no chão. "Agimos como um predador hesitante em comer a presa e então gravamos para ver o que elas fariam", disse Bjelica.

Eles observaram quando as cobras se cobriam de fezes e almíscar (pouco menos da metade das cobras), quando permitiam que o sangue borbulhasse de suas bocas (apenas 10%) e por quanto tempo fingiam estar mortas. Algumas ficavam bastante tensas enquanto fingiam estar mortas, tornando-as difíceis de mover. Outras ficavam tão relaxadas que os estudantes mais jovens as arrumavam em formatos de coração.

"Elas realmente se comprometem com o papel, dependendo do indivíduo", disse Bjelica.

A estratégia parecia funcionar melhor para cobras adultas, que são um pouco menos vulneráveis aos predadores. As jovens da espécie dice snake, que muitas vezes são capturadas por pássaros, eram significativamente menos propensas a correr o risco e fingiam estar mortas por muito menos tempo. E, como a equipe havia suposto, as que sangravam pela boca e se cobriam de almíscar e fezes tendiam a fingir estar mortas por dois segundos a menos do que as outras em média.

Nas interações entre predador e presa, cada segundo conta. "Dois segundos podem não ser muito quando você está lendo o jornal, mas podem ser suficientes para uma cobra escapar com sucesso", disse Bjelica. A estratégia também parece funcionar melhor quando há muitos outros animais presas por perto, permitindo que os predadores se distraiam e tirem a atenção da cobra que está fingindo estar morta.

Mas Bjelica fez uma ressalva sobre o estudo: a maioria dos dados vem de uma população bastante incomum —cobras de ilha inteiramente caçadas por pássaros e estudantes de pós-graduação. Com isso, mais pesquisas, idealmente incluindo observação do mundo real, são necessárias em outras populações e entre outras espécies de cobras para fazer os mesmos cálculos.

E, algumas variáveis serão impossíveis de testar, afirmou Bjelica.

"Não estamos tentando machucar a cobra, então você não vai agarrar e manuseá-las como um predador faria", ele disse. "Mas o predador não está pensando em termos de restrições éticas ou seções metodológicas em um artigo de pesquisa."

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