Descrição de chapéu The New York Times

Direto de 700 d.C., um navio pré-viking ressurge

Na ilha norueguesa de Leka, arqueólogos descobriram o enterro de navio mais antigo conhecido na Escandinávia

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Franz Lidz
The New York Times

Por centenas de anos, os noruegueses pensaram que sabiam quem ou o que havia sido enterrado em um enorme túmulo na ilha de Leka, que fica perto da costa norte do país, de frente para o oceano Atlântico. O monte gramado é nomeado em homenagem ao Rei Herlaug, um monarca viking do nono século que, segundo a mitologia nórdica, teria se feito enterrar vivo junto com 11 companheiros em vez de enfrentar uma derrota certa por um governante rival.

A história do suicídio em massa tem sido considerada potencialmente factual desde o final de 1700, quando três túneis foram perfurados no monte funerário, revelando pregos, ossos de animais, um caldeirão de bronze e um esqueleto sentado com uma espada. Os restos humanos, teoricamente identificados como Herlaug, foram exibidos com outros artefatos do túmulo por um tempo na Escola da Catedral de Trondheim antes de desaparecerem completamente no início dos anos 1920, deixando um quebra-cabeça não resolvido. Obviamente, o caldeirão foi derretido para fivelas de sapato.

Uma estrada sinuosa serpenteia através de campos verdes. Em meio às curvas da estrada há uma elevação de terra
O túmulo funerário de Herlaugshaugen na Ilha de Leka, ao largo da costa da Noruega, onde foram descobertos os restos de um navio do século 8 - NTNU University Museum via The New York Times

No verão passado, arqueólogos e um detector de metais realizaram uma pequena pesquisa do túmulo em nome da Diretoria Norueguesa de Patrimônio Cultural. Eles estavam tentando determinar se o monte —originalmente com 41 pés de altura e 230 pés de diâmetro— abrigava um navio, como os estudiosos suspeitavam há muito tempo. "Sabemos muito pouco sobre o que esses grandes montes contêm porque quase nenhum deles foi investigado", disse Geir Grønnesby, um arqueólogo da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia que supervisionou a escavação.

Os pesquisadores cavaram três trincheiras rasas no local e desenterraram fragmentos de madeira e rebites de pranchas de ferro que se pensava terem feito parte de um navio. Embora o navio tivesse se deteriorado em grande parte, a datação por radiocarbono da madeira ao redor de alguns dos rebites e das duas camadas de carvão vegetal no alto do monte indicou que o enterro ocorreu por volta de 700 d.C., tornando-o o exemplo mais antigo conhecido de um enterro de navio na Escandinávia.

"Não sabemos se o navio era oceânico, ou seja, se cruzava o Mar do Norte até a Inglaterra", disse Grønnesby. "Mas ele tinha uma competência marítima que permitia ir ao longo da costa até o continente."

O túmulo do navio antecede a Era Viking, que durou de 793 d.C. a 1066 d.C., por várias gerações —derrubando a teoria de que o local, conhecido como Herlaugshaugen, era o local de descanso final de Herlaug e seu esquadrão de suicidas.

Mas a descoberta estabeleceu que os habitantes do século 8 da costa centro-norte eram "navegadores habilidosos que podiam construir grandes navios", disse Grønnesby. Também desafiou narrativas históricas ao retroceder a tradição de túmulos de navios na Noruega, alinhando-a com exemplos precoces espetaculares como os enterros de barcos de Valsgärde, na província sueca de Uppland, e o enterro de navio de Sutton Hoo, no condado de Suffolk, Inglaterra.

Os arqueólogos diferenciam entre barcos e navios nórdicos antigos com base no comprimento, mas não concordam em onde traçar a linha; alguns dizem 39 pés, outros dizem 46 pés.

A Noruega abunda em montes de sepultura. Um estudo de 2017 determinou que quase 2.300 desses montes têm mais de 66 pés de largura na base. Alguns, como o que costumava estar em outro local em Inderøy, tinham uma aura de conto de fadas. A lenda diz que um rei conquistou Inderøy em batalha e instalou um cão chamado Saurs no trono. Os locais usaram magia para instilar o conhecimento de três homens sábios no animal, cujo reinado encantado, se não iluminado, durou anos. Quando o cão finalmente encontrou seu criador, ele foi enterrado em um monte chamado Sakshaug, norueguês para monte de Saur.

Montes de cães parecem ter sido menos comuns do que montes de barcos, que eram uma estrutura funerária bastante padrão em toda a Escandinávia, onde os falecidos eram colocados em embarcações e recebiam oferendas funerárias de acordo com seu status social. Montes de pedra e solo eram tipicamente colocados sobre os corpos para criar os montes. Grønnesby disse que muitos dos montes monumentais da antiga Noruega foram construídos para a elite do poder como símbolos de riqueza e prestígio, e localizados em lugares onde os transeuntes não podiam deixar de vê-los.

O caldeirão de bronze de Herlaugshaugen foi descoberto durante a primeira escavação, em 1755, quando se pensava que o monte continha os restos de um gigante chamado Herlo. Pouco se sabe sobre o navio presumivelmente enterrado lá, embora os rebites descobertos recentemente sugiram que provavelmente tinha um comprimento comparável ao de dois navios do século 9 —o Oseberg e o Gokstad, com 71 e 78 pés de comprimento, respectivamente— encontrados em montes funerários em Vestfold, Noruega.

"A primeira escavação de Herlaugshaugen em 1755 encontrou um buraco que atravessava o monte", disse Grønnesby. "À luz da lenda, isso foi interpretado como uma abertura de ar."

A teoria atual propõe que o buraco era a marca de um mastro e que, de qualquer forma, o navio foi enterrado no monte pelo menos 150 anos antes do suposto enterro real ter ocorrido.

Ou não ser

Em "Heimskringla", as sagas sangrentas e malévolas dos reis nórdicos antigos, o sábio islandês do século 13 Snorri Sturluson contou sobre Herlaug e Hrollaug, irmãos que reinaram conjuntamente sobre o reino insignificante de Naumudal, que incluía a ilha de Leka. Os reis tiveram a infelicidade de governar durante o tempo de Harald Fairhair, um ambicioso senhor da guerra que jurou que não cortaria o cabelo até unir toda a Noruega sob uma monarquia —um juramento que lhe rendeu o apelido de Lufa, ou Cabeça de Choque.

Segundo Sturluson, Herlaug e Hrollaug passaram três verões erguendo um enorme monte funerário de pedra, cal e madeira. Assim que o trabalho foi concluído, chegou a notícia de que Harald e seu exército formidável estavam a caminho deles. Resignado à derrota, Hrollaug se juntou ao inimigo. Mas Herlaug se recusou a se render e, em vez disso, mandou trazer grandes quantidades de carne e bebida para dentro do túmulo. Então ele entrou com 11 de seus homens e, em um ato final de desafio, ordenou que o abrigo fosse selado.

Muitos governantes ao longo da história cavaram suas próprias sepulturas figurativamente, mas talvez apenas o Rei Herlaug tenha feito isso literalmente.

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