Amostra mais profunda já coletada do manto da Terra é obtida por cientistas

Material dá dicas sobre processos químicos que ocorrem quando essa rocha interage com a água do mar, os quais podem ter sustentado o surgimento da vida na Terra há bilhões de anos

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Will Dunham
Washington | Reuters

Cientistas cavaram o buraco mais profundo já feito em uma rocha do manto da Terra, penetrando 1.268 metros abaixo do fundo do oceano Atlântico com um navio de perfuração oceânica, e coletaram uma grande amostra que está oferecendo pistas sobre a maior camada do nosso planeta.

A amostra cilíndrica está dando dicas sobre a composição da camada mais alta do manto e dos processos químicos que ocorrem quando essa rocha interage com a água do mar em várias temperaturas, disseram cientistas nesta quinta-feira (8). De acordo com eles, esses processos podem ter sustentado o surgimento da vida na Terra há bilhões de anos.

Amostras que parecem pequenas rochas estão separadas em recipientes
Amostras de manto da Terra; equipe perfurou mais de 1 km abaixo do oceano Atlântico - Sarah Treadwell/Exp. 399/JRSO/IODP

O manto, que é responsável por mais de 80% do volume do planeta, é uma camada de rocha de silicato, imprensada entre a crosta externa da Terra e o núcleo quente. Essa camada geralmente é inacessível, exceto em locais onde ficam expostas no leito marinho, entre as placas continentais que se movem lentamente e formam a superfície da Terra.

Um local como esse é o Maciço Atlântis, uma montanha submersa onde a rocha do manto está exposta no leito marinho. Ela fica no meio do oceano Atlântico, a oeste da grande Dorsal Mesoatlântica, que forma a fronteira entre as placas da América do Norte e as da Eurásia e da África.

Usando equipamentos a bordo da embarcação Joides Resolution, os pesquisadores cavaram o manto cerca de 850 metros abaixo da superfície do oceano, de abril a junho de 2023. A amostra coletada contém mais de 70% de rocha e tem 886 metros de comprimento, a partir do buraco cavado.

"A recuperação é recorde, pois tentativas anteriores de perfuração de rochas do manto foram difíceis, com penetração não mais profunda do que 200 metros e com recuperação relativamente baixa de rochas. Em contraste, penetramos 1.268 metros, captando grandes seções de rochas contínuas do manto", disse o geólogo Johan Lissenberg, da Universidade de Cardiff e autor principal do estudo publicado na revista Science.

A amostra central tem um diâmetro de aproximadamente 6,5 centímetros.

A imagem mostra um navio de perfuração ancorado em águas calmas do oceano. O navio é de grande porte, com uma torre de perfuração central e várias estruturas ao redor. O céu está claro e azul, refletindo na superfície da água.
Navio de perfuração oceânica Joides Resolution em mar da Grécia - Thomas Ronge/Reuters

Os cientistas colocaram um cilindro de concreto reforçado na parte superior do buraco, disse o geólogo e coautor do estudo Andrew McCaig, "e então a perfuração foi inesperadamente fácil".

A amostra ainda está sendo analisada. Os pesquisadores fizeram algumas descobertas preliminares sobre sua composição e documentaram um histórico mais extenso de derretimento —rocha derretida— do que o esperado.

"O mineral ortopiroxênio, principalmente, mostrou uma ampla gama de abundância em diferentes escalas, indo do centímetro às centenas de metros", disse Lissenberg. "Relacionamos isso ao fluxo de derretimento por meio do manto superior. À medida que o manto superior cresce abaixo das placas de expansão, ele derrete, e esse derretimento migra em direção à superfície, alimentando os vulcões."

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