Descrição de chapéu China

Apesar de ameaças a espécie, pandas preservam diversidade genética

Retrato é importante para decisões futuras de conservação, como a criação de novas áreas protegidas e de corredores ecológicos

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São Carlos (SP)

Uma grande análise genômica dos ursos mais carismáticos e ameaçados do planeta trouxe notícias relativamente animadoras. Apesar do encolhimento e da fragmentação de sua população original, os pandas-gigantes ainda contam com uma razoável diversidade genética, e isso pode ser fortalecido por meio do cruzamento com animais em cativeiro, de acordo com pesquisadores da China.

Para chegar a essa conclusão, publicada no último dia 26 em artigo no periódico científico PNAS, os cientistas sequenciaram (grosso modo, "soletraram") o conjunto do DNA de 612 pandas –74 deles ursos que vivem em cativeiro, enquanto os demais, selvagens, morreram ao longo do século 20 e tiveram suas peles preservadas, servindo de fonte para o material genético estudado.

panda-gigante está sozinho sobre galho de árvore em área de mata
Panda-gigante em área de pesquisa em Ya'an, na província chinesa de Sichuan - Xue Chen - 18.abr.24/Xinhua

A análise incluiu ainda genomas de mais 58 bichos, que já tinham sido publicados anteriormente. Considerando que hoje existem cerca de 1.900 membros da espécie na natureza, além de mais de 600 em zoológicos e centros de conservação, a amostra provavelmente representa bastante bem a espécie.

A diversidade de fontes de dados genômicos é importante porque os pesquisadores tinham como objetivo criar um mapa da diversidade genética de todas as principais populações de pandas-gigantes, hoje espalhadas por uma estreita faixa de território montanhoso e cheio de bambuzais no centro da China.

A intenção da equipe liderada por Sheng-Guo Fang, da Universidade de Zhejiang, era ter uma ideia mais clara do parentesco e da história dessas populações, bem como investigar se algumas delas estão em situação mais delicada do ponto de vista genético. Montar esse retrato é importante para decisões futuras de conservação, como a criação de novas áreas protegidas para a espécie, de corredores ecológicos de reflorestamento que possam conectar grupos hoje isolados ou de introdução de indivíduos nascidos em cativeiro.

Segundo a análise, duas populações, a de Qinling e a de Liangshan (respectivamente no extremo norte e extremo sul da distribuição geográfica atual dos pandas) merecem atenção especial. A primeira foi a mais afetada pela expansão da civilização chinesa desde a pré-história, por estar perto dos locais onde a agricultura da antiga China se desenvolveu pela primeira vez. Já a de Liangshan é a que sofreu o declínio populacional mais rápido no século passado, pouco antes de as medidas de proteção aos pandas serem implementadas com mais rigor no país.

A boa notícia, porém, é que as ameaças ainda não foram suficientes para causar problemas sérios aos pandas-gigantes do ponto de vista genético. Para chegar a essa conclusão, Fang e seus colegas analisaram certas propriedades do DNA dos membros da espécie, como o grau de presença de homozigosidade.

Essa medida refere-se à presença de duas cópias da mesma versão de determinado trecho de DNA no mesmo indivíduo. Em geral, seres vivos que se reproduzem por meio do sexo sempre têm duas cópias de cada região do DNA, uma vinda do pai e outra da mãe daquele indivíduo. Se cada cópia carrega uma versão ligeiramente diferente desse trecho, é um indício de que o pai e a mãe vinham de linhagens relativamente diferentes entre si também. Já indivíduos aparentados tendem a carregar a mesma versão daquele pedaço do DNA, gerando, portanto, filhos com mais homozigosidade.

Isso é importante para a saúde de uma população porque muitas variantes de DNA associadas a doenças são relativamente inócuas caso só estejam presentes numa cópia no genoma, causando efeitos mais deletérios se aparecerem em duas cópias.

Apesar da situação pouco confortável das populações de pandas, os pesquisadores verificaram que o nível de homozigosidade está dentro do aceitável e poderia ser melhorado ainda mais por cruzamentos criteriosos, no futuro, com ursos criados em cativeiro. Aliás, os animais de zoológicos têm menos homozigosidade que os das populações naturais, talvez porque seus ancestrais tenham vindo de grupos mais diversificados geneticamente.

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