Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

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Descrição de chapéu Governo Lula

As medidas tributárias duras que vêm por aí

Anúncio de pacote ficou para a próxima semana

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As medidas que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anuncia, nos próximos dias, para compensar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores e municípios serão duras, mas necessárias, avisam integrantes da equipe econômica ouvidos pela coluna.

A proximidade do anúncio tem deixado setores produtivos e do mercado financeiro ansiosos, em compasso de espera, porque o tamanho do pacote de medidas terá que ser amplo para cobrir a perda de arrecadação com a desoneração.

A ficha começou a cair quando Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal, revelou que o Ministério da Fazenda calcula que as medidas do pacote terão que cobrir um buraco de R$ 25,8 bilhões para bancar a desoneração (R$ 15,8 bilhões de frustração de receita com a desoneração dos 17 setores e até R$ 10 bilhões dos municípios).

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista à Folha em seu gabinete - Pedro Ladeira/Folhapress

Dificilmente uma única medida a ser adotada será suficiente para compensar essa renúncia estimada pela Receita. O valor é mais alto do que as previsões dos congressistas e da própria Fazenda, o que sinaliza que pode ter gordura para negociar no Congresso.

Barreirinhas deixou claro que a compensação se dará para o período de 12 meses de 2024. Segundo ele, este seria o entendimento da liminar do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal.

Esse período é central porque em uma conta matemática simples se vê de cara que o esforço adicional de arrecadação terá que se dar, na melhor das hipóteses, em sete meses, para compensar o impacto do benefício tributário da folha de pagamentos de um ano inteiro. O que dá a dimensão do que vem por aí de medidas.

Barreirinhas subiu o tom ao falar que, sem a compensação, não haverá desoneração pela decisão de Zanin. Uma demostração de força da estratégia do governo ao judicializar o assunto, quando a maioria contava que o presidente Lula não aceitaria fazer esse movimento em ano de eleições.

O secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, seguiu na mesma linha do colega Barreirinhas nesta sexta-feira (24) ao afirmar que se o Congresso barrá-las, "os benefícios também não serão aceitos".

Do ponto de vista legal, não deixa de ser uma situação confortável para o governo, que foi construída com apoio do STF. Mas novo embate se dará no Congresso, onde senadores e deputados se queixam de já terem aprovado muitas medidas de aumento de arrecadação para o ministro Haddad.

A votação da regulamentação da reforma se dará no meio de tudo isso com riscos de atropelos no meio do caminho.

Previsto para esta semana por Haddad, o anúncio do pacote ficou para a semana que vem porque o governo quer apresentar de uma só vez as medidas, que estão em análise no Palácio do Planalto.

É a hora da política entrar em campo —o cálculo do Palácio do Planalto para o que tem mais ou menos viabilidade de passar no Congresso com menor custo político para o presidente.

A adoção de medidas compensatórias é uma exigência da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) que não era observada pelos parlamentares na aprovação de projetos. Com a decisão de Zanin, esse cenário muda.

O mesmo rigor técnico também vai valer para o governo federal, que não poderá fazer uso de subterfúgios, como muitas vezes se viu nos últimos anos.

Vamos à regra: a lei manda que uma concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária que gera uma renúncia de receita deverá ser compensada por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.

Nem que o governo quisesse, a compensação poderia ser feita com previsão de corte de despesas —mecanismo que já foi usado no passado.

Acórdão do Tribunal de Contas da União diz que a compensação para renúncia de receita é estritamente o que está escrito. Ou seja, não pode compensar com nenhuma outra coisa. Só com o que está escrito ali.

Não haverá mais dois pesos e duas medidas. Nem para o governo e nem para os parlamentares. Não há dúvida que a LRF sai fortalecida.

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