Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

O vampiro e o gago

'Novelas Nada Exemplares', estreia de Dalton Trevisan, chega aos 60 anos

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Dalton Trevisan jamais perdoou Otto Maria Carpeaux. Até hoje, chama-o de “o gago”. Em fevereiro de 1959, a José Olympio mandou para as livrarias “Novelas Nada Exemplares”, primeira obra do autor, àquela altura desconhecido, a ser publicada por grande editora. Ganhou o Jabuti, recebeu elogios de Otto Lara Resende, José Paulo Paes e Fausto Cunha e malho tremendo do crítico austríaco: “De um livro totalmente inútil o melhor seria nem falar”.

Os relatos de Dalton Trevisan costumam morder o leitor. Sem perceber, Carpeaux se deixou envenenar. Aponta como defeito uma das maiores qualidades do escritor: “É a vida de gente primitiva: crianças, adolescentes, pequenos empregados, prostitutas, criminosos, idiotas, loucos. [...] Tudo é trivial naquelas vidas. Triviais são os horrores: descrições minuciosas de agonias, tentações, crimes”.

O vampiro de Curitiba nunca quis outra coisa: sugar a sua gente, se esconder atrás da porta para ouvir confidências, roubar o bilhete suicida. E depois escrever. De preferência, reescrever, tirando uma palavra aqui, uma vírgula ali. Nos seus 60 anos, as “Novelas Nada Exemplares” encolheram —para melhor.

Dalton, forte e sacudido aos 93 anos, sai de casa para fazer compras no mercadinho. É dono de uma saúde “irritante”, dizem os amigos. Está de namorada nova, moça de cabelos coloridos, capaz de espantar os curitibanos mais conservadores (aos quais ele se refere como “curitibocas”). Sem publicar livro novo desde 2014 (na verdade, “Beijo na Nuca” é uma recolha de contos antigos), continua a presentear os mais chegados com antologias mínimas em xérox.

A boa notícia é que releu “Sonata ao Lar”, novela de 1945 que havia renegado e caçado até sair de circulação. Agora a julga uma das melhores coisas que já escreveu na vida. Quem sabe não a republica? Se estivesse vivo, Carpeaux também poderia mudar de opinião.

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