Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu Alalaô Rio de Janeiro

Carnaval só em 2022?

Uma coisa é certa: o mesmo pessoal que hoje lota praias e bares tomará as ruas em blocos de improviso, desrespeitando qualquer proibição

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Só falta bater o surdo em marcação fúnebre. Mas é certo: a Liga das Escolas de Samba do Rio vai anunciar o cancelamento dos desfiles em fevereiro de 2021. Resta a possibilidade de adiar a festa para o meio do ano. Poderá ser a primeira vez que não haverá o concurso dos sambistas na avenida desde 1932. A justificativa oficial é o risco à saúde.

Fazer o Carnaval ficou impossível, sem a venda antecipada de ingressos, os ensaios de quadra e a fuga dos patrocínios. As escolas haviam desligado sua fábrica de produção desde abril e, sem dinheiro, desistido de comprar material para fantasias e alegorias. Com a pandemia, quem trabalhava em função do desfile teve sorte ao conseguir mudar de ramo: costureira virou cozinheira, mestre-sala passou a motorista de aplicativo, rainha de bateria está dando aula online.

Parece desespero, e é: o pessoal dos blocos de rua estuda a volta do corso carnavalesco. A brincadeira era o fervo nas primeiras décadas do século 20: carros luxuosos, abertos e ornamentados, com foliões fazendo o troca-troca de confetes, serpentinas e esguichos de lança-perfume. (Por mim, traziam logo de volta os bondes, que eram mais democráticos e animados.)

Foi durante um corso na praça Saenz Peña que Nelson Rodrigues teve a visão que marcaria não só a sua infância como toda a sua vida: na capota do carro vinha uma odalisca, cuja fantasia tinha uma abertura “por onde irrompia o cavo e deslavado umbigo”.

Com ou sem odaliscas, uma coisa é certa: os mais desesperados —para os quais os outros são otários— vão tomar as ruas em blocos de improviso, desrespeitando qualquer proibição e fazendo valer o calendário de Momo. É a mesma gente que, hoje, lota praias e bares. Ao contrário do Carnaval de 1919, que registrou a explosão de alegria após a gripe espanhola, a bravata dos desmascarados celebrará o contágio.

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