Para explicar o fracasso, o ministro Paulo Guedes tem insistido em bater numa tecla: a antecipação da corrida eleitoral afeta a retomada das atividades econômicas. Com a tese, o sabichão de Chicago demonstra que não conhece o Brasil. Tudo no país gira em torno das eleições presidenciais. Entre uma ida e outra às urnas, a população vive o período de desgraças, com maior ou menor intensidade.
Guedes reclama, mas banca o jogo. O governo planeja arrecadar R$ 110 bilhões até o fim de 2022 com leilões de imóveis. Um feirão de oportunidades com 55 mil prédios, “realizado 100% online”, segundo a cartilha do Ministério da Economia. O objetivo é prover a caixinha da campanha à reeleição. Todos sabem que o chefe só pensa nisso.
O Rio abriga grande parte do funcionalismo federal, mas não terá direito à grana dos leilões. Cerca de 2.000 imóveis estão liberados para imediata alienação, a maioria no Centro, região que mais sofreu os efeitos da pandemia e não vê sinais de recuperação. É um presente de grego para a cidade que em 2018 deu uma votação espetacular a Bolsonaro.
Constam da lista o edifício A Noite, na praça Mauá; o Inmetro, no Rio Comprido; o Mercadinho São José, em Laranjeiras, que é tombado; o edifício Renato Feio, ex-sede da Rede Ferroviária Federal, ao lado da estação Central do Brasil. O Palácio Capanema continua habilitado a receber propostas mesmo depois da forte reação do meio cultural. A negociação ganhou um aliado de última hora, o prefeito Eduardo Paes, para quem o Capanema é “um prédio estatal usado por poucos em benefício de poucos”.
Valendo o argumento de Paes, entrariam no feirão o Museu Nacional, o Museu de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, o Jardim Botânico e —por que não?— a Casa da Moeda, a Petrobras e o BNDES. Pensando bem, é de espantar que os dois museus e a biblioteca não estejam prestes a arder na queima total.
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