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Como as incertezas do 'brexit' estão afetando o Reino Unido?

Negociações para saída da UE continuam muito confusas, gerando impactos no país

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Manifestantes contrários ao 'brexit' protestam perto do gabinete da primeira-ministra britânica, Theresa May, em Londres
Manifestantes contrários ao 'brexit' protestam perto do gabinete da primeira-ministra britânica, Theresa May, em Londres - Simon Dawson - 1.mar.2018/Reuters

O Reino Unido foi atingido na última sexta-feira por dois fenômenos meteorológicos simultâneos: a Tempestade Emma chegou ao país com potentes rajadas de vento e encontrou-se com “The Beast from the East” (a Besta do Leste), uma frente fria vinda da Sibéria que trouxe muita neve e caos.

Uma tormenta perfeita, que fechou escolas, estradas e aeroportos, isolando algumas regiões do país. Até o Exército, vejam só, foi convocado às pressas para resgatar pessoas e ajudar a lidar com as emergências geradas pelo frio.

E foi exatamente nesse dia caótico que a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um de seus mais importantes discursos sobre o 'brexit'. Uma incrível e infeliz coincidência. A intenção de May era deixar mais clara a posição do governo conservador sobre os termos do divórcio com a União Europeia —um processo ainda mais confuso do que as cenas provocadas pelas tempestades de neve.

May reconheceu pela primeira vez que “ninguém vai conseguir tudo o que quer” nas negociações entre europeus e britânicos. Ela admitiu ainda que o Reino Unido terá menos acesso do que tem hoje ao mercado único europeu e terá que pagar para participar de algumas das agências europeias.

Terminou dizendo que, a despeito das dificuldades, acredita que tem condições de conseguir um acordo com a UE. Mas tudo continua ainda muito nebuloso, gerando impactos no país.

O primeiro desses impactos é econômico. Os britânicos ficaram um pouco mais pobres com a desvalorização da libra esterlina em relação ao euro. A moeda do país perdeu cerca de 15% do valor depois do plebiscito. Isso ajudou a aumentar a inflação, que está em 3% (acima da meta de 2%).

Com a libra desvalorizada, os britânicos passaram a viajar menos pela Europa. No sentido contrário, houve um aumento de visitantes vindo ao país. Londres, por exemplo, nunca foi tão barata para os europeus —mas está ainda mais cara para os locais. E as ruas do centro andam ainda mais lotadas de turistas do que o habitual —o que, por outro lado, ajuda o setor de turismo.

Na parte social, uma das transformações recentes foi um aumento dos chamados crimes de ódio. Não se pode dizer que eles são ligados diretamente e apenas ao 'brexit', já que houve grandes picos de incidentes logo depois dos ataques terroristas do ano passado. Mas é sintomático que um dos maiores picos tenha acontecido justamente nos dias que se seguiram ao anúncio da vitória do 'brexit'.

De uma forma ou de outra, mais de 62 mil casos de racismo e xenofobia foram registrados pela polícia entre abril de 2016 e abril de 2017, um aumento de quase 30% em relação aos dados do período anterior.

Na política, a confusão impera. Conservadores e trabalhistas estão divididos e cada grupo interno desses partidos apresenta sua “visão” para as negociações com o 'brexit'. Mas não há nenhum consenso. Os vencedores acreditam que a saída da UE vai trazer excelentes oportunidades para o país. Os derrotados também agitam, tentando argumentar que o Reino Unido pode continuar no grupo europeu ou, pelo menos, no mercado único.

Outros querem a realização de um novo plebiscito —a possibilidade mais remota de todas, já que os dois principais partidos são contra e dizem que é essencial respeitar a vontade do povo. Além disso, a população não parece nem um pouco interessada em novas votações. A sensação é que a maioria apenas quer que as negociações acabem logo. Querem simplesmente tocar a vida para a frente.

Só que as negociações se arrastam e quase nada de concreto foi decidido. A não ser em pontos mais laterais. Um exemplo: o governo britânico já anunciou que a partir do ano que vem os passaportes do país não vão mais ter capa cor de vinho, como na quase totalidade dos países da União Europeia. Os novos passaportes britânicos serão azuis, como já foram no passado. A mudança tem a intenção de representar a identidade nacional do país.

A ironia é que a UE não obriga, apenas recomenda, que os países adotem a cor de vinho em seus passaportes. Essa é uma mudança que poderia ter sido feita sem nenhum 'brexit'.

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