Estimulados pelo movimento Black Lives Matter, nos EUA, em 2020 brasileiros foram às ruas do país em mais de uma ocasião para afirmar que vidas negras importam. Tragicamente, o relatório “A Cor da Violência Policial: A bala não erra o alvo” parece contrariar a assertiva.
O levantamento foi realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, que reúne diversas instituições acadêmicas e da sociedade civil e acompanha políticas públicas de segurança e criminalidade no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, no Ceará e em Pernambuco.
A partir de dados oficiais referentes a 2019, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) junto às secretarias da Segurança dos cinco estados e comparados com informações sobre a cor das populações contidas no censo do IBGE, o levantamento concluiu que o racismo estrutura políticas de policiamento e de segurança pública. A análise da proporção de negros entre as vítimas de violência letal revelou que “a predominância de pretos e pardos é bem superior à composição da população”.
Na BA, onde 76,5% da população é preta ou parda, 96,9% dos mortos pela polícia são negros. No CE, a população negra é de 66,9% e o percentual de pretos e pardos mortos é de 87,1%. Em PE, nove em cada dez pessoas mortas pela polícia são negras; o índice de negros mortos pela polícia é de 93,2%, sendo a população negra de 61,9%. No RJ, onde 51,7% da população é negra, o percentual de negros mortos pela polícia é de 86%. E em SP, onde a população negra é de 34,8%, o percentual de negros mortos pela polícia é de 62,8%.
Dia desses um amigo fez um alerta sobre a necessidade de tomar cuidado com dados porque estatísticas podem ser manipuladas. Verdade. Mas é difícil encontrar explicação que exclua o componente racial quando “negros são os que mais morrem, independentemente do tamanho da população negra do lugar”.
É evidente que a violência atinge a todos, porém não na mesma proporção.
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