Por mais que os anos passem e a vida ensine lições diversas, é difícil passar incólume diante da atitude nefasta daqueles que preferem investir tempo e energia na desconstrução dos outros.
Como cantou Bezerra da Silva —em outro contexto, é verdade—, tem dedo de seta adoidado/ todos eles afim/ de entregar os irmãos. Pensando na entrega de maneira ampliada, a questão gira em torno daquele apontar eventuais desacertos de terceiros não só como forma de ocultar a própria incapacidade, mas também de desconsiderar por completo o fato de que o erro do outro foi precedido por uma iniciativa.
E pode esquecer qualquer aceno no sentido de reconhecer virtudes alheias. É coisa que remete à fábula "O escorpião e o sapo", na qual o artrópode prefere desferir uma ferroada e com isso decretar a sentença de morte da dupla a permitir que o anfíbio exerça plenamente sua capacidade de nadar até a outra margem.
Pode parecer besteira, mas é algo a se considerar com seriedade e por vários ângulos. Seja por ação inadequada ou inação, a mediocridade se impõe atravancando caminhos, fazendo escada para crescer e se estabelecer.
Com certeza são muitos os casos em que é mais fácil fechar os olhos ou fazer de conta que não viu. Mas é preciso reconhecer que tudo tem um custo. E geralmente quem paga o preço é um terceiro. O que faz pensar na sociedade que está sendo construída e legada às próximas gerações.
É fato que precisa haver tolerância, porém não se pode permitir que a condescendência leve à opção por deixar de encarar incômodos em razão de conveniências que sobrepõem interesses pessoais aos coletivos.
Quando não é possível alcançar o que se ambicionou e não dá para atingir objetivos imediatos ou mediatos, é necessário ter a grandeza de tirar do horizonte qualquer prática que venha a prejudicar a existência dos outros. A vida é feita de escolhas, porém trevas não deveriam figurar entre as opções.
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