Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa

Tudo que é bom é branco?

O racismo é uma realidade cruel e excludente

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Desde que fui convidada a ocupar este espaço, tenho sido criticada acerca da opção por abordar preferencialmente temas relacionados à negritude. Houve vezes em que fiquei baqueada. Noutras tive vontade de rebater. Diante da falácia acerca de um delirante racismo de negros contra brancos, agradeci por ter mantido meu propósito.

O racismo é uma realidade cruel e excludente que faz parte do cotidiano da maioria da população brasileira. O sistema que garante a perpetuação das imensas desigualdades lembra um câncer em fase tão avançada que em certos momentos parece um desafio impossível de ser suportado.

Charge publicada na Folha no dia 18 de janeiro de 2022. A charge é dividida em dois quadros. Título do primeiro quadro: Racismo. Na imagem, um homem branco está com um braço levantado balançando um chicote e um homem negro com as costas sangrando está preso por correntes em um tronco. Título do segundo quadro: Racismo reverso. Na imagem, a cena se repete, um homem branco está com um braço levantado balançando um chicote e um homem negro com as costas sangrando está preso por correntes em um tronco.
Charge publicada na página Opinião de 18.jan.2022 - Benett

Quem é negro sabe o quanto dói ser julgado, preterido e perseguido em razão da cor da pele. Infelizmente ainda há quem tente extirpar nossa humanidade. Mas, na condição de seres humanos, pessoas negras têm defeitos, preconceitos, ambições, sofrem. E resistem. Há séculos.

Sendo o racismo um sistema estruturante de dominação com base num conceito absurdo de superioridade racial que mantém pretos e pardos em desvantagem social, econômica e cultural —e não se trata de uma mera querela semântica, embora a semântica seja muito importante—, não é razoável imaginar a existência de racismo reverso num país hierarquizado de maneira a manter os negros em condição de subalternidade desde os tempos em que o Brasil era uma colônia.

Recorro ao lúdico, rememorando uma entrevista do pugilista Muhammad Ali, astro dos ringues e gigante na defesa dos direitos civis dos afro-americanos, para a BBC na década de 1970. Na ocasião, ele citou um diálogo que teve com a mãe, na infância, para chamar a atenção da audiência da televisão para a pauta racial nos EUA.

"Sempre fui curioso e perguntava à minha mãe: Por que tudo que é bom —Jesus, os anjos, o papa, Papai Noel (…)—, é branco, e tudo que é ruim —o Patinho Feio, o gato que dá má sorte (…)—, é preto? Foi aí que eu entendi que algo estava errado." É disso que se trata.

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