As eleições gerais de 2022 ainda não ocorreram e já conseguiram produzir simultaneamente dois fenômenos distintos. Em uma frente, conectaram elite (econômica e cultural) e oposição, que vieram a público demonstrar sintonia nos atos em defesa da democracia, do Estado de Direito e da lisura do processo eletrônico de votação. Na outra, o povo —que passa fome— começou a dar sinais de encantamento com o pacote de benesses efêmeras lançado recentemente pelo governo, numa clara comprovação de que estômago vazio pode causar dor de cabeça.
Como sonhar não custa nada, a partir de desta terça (16), com o início da campanha eleitoral, o desejável é que todos os candidatos se limitem aos fatos e não se deixem levar pela tentação de mascarar a realidade para obter vantagem pessoal. Sobretudo se as mentiras atentarem contra o sistema democrático.
Mas isso é muito pouco provável, quase um "milagre". Por mais que seja um desejo contido também na mobilização dos milhares de menores de 18 anos que, mesmo sem a obrigação, fizeram questão de expressar confiança no sistema eletrônico de votação e se habilitaram para participar da "festa da democracia", marcada para 2 de outubro. Além dos maiores de 70 anos que também pretendem votar.
Pelos registros do TSE, é recorde o número de pessoas aptas a participar do pleito deste ano: são mais de 156 milhões, um crescimento superior a 6% em relação a 2018. É muito, sobretudo considerando que boa parte irá às urnas por opção.
E o que toda essa gente merece são propostas perenes para enfrentar as graves mazelas nacionais relacionadas a saúde, educação, desemprego, saneamento básico, habitação, desigualdade racial, ambiente…
Uma nação na qual a fome voltou a fazer parte do cardápio não pode se dar ao desplante de ceder espaço para disseminação de bravatas e mentiras, e tem obrigação de fazer o possível para impedir que o povo seja ludibriado com benefícios fugazes. A democracia agradece.
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