Quando meu pai morreu, no começo dos anos 2000, estava envolvida com a apuração de uma matéria sobre o luto de pessoas que sobrevivem a seus descendentes. Perder um filho implica lidar com um tipo de morte muito particular, diria antinatural até.
Na época eu não tinha filhos e, evidentemente, não fazia noção do que aquela gente estava passando. Mas a escuta ativa daquelas histórias de separações, abruptas na maioria das vezes, de alguma forma me fortaleceu e ajudou a seguir lidando com minhas próprias dores.
Na sexta-feira (31), minha manhã foi atravessada pela notícia do falecimento do filho de um grande amigo, uma pessoa que elegi como meu "pai por afeição" pela maneira afetuosa com que me trata desde que nos conhecemos, na década de 1990.
Continuo sem fazer ideia do que se passa com alguém que perde um filho. "Ninguém pode imaginar o que não viveu", canta Zeca Pagodinho. Mas, como mãe, agora sei o quanto a hipótese é aterrorizante em si. E já encarei perdas suficientes para entender que nenhum luto é comparável.
Quem me acompanha neste espaço sabe que estou longe de ser uma Pollyanna, porém tenho refletido sobre o tempo. Passei a confiar que tudo acontece por uma razão, mesmo que a gente não goste ou entenda.
Não se trata de conformismo, mas de jogar o jogo da vida com a leveza que for possível. Ninguém precisa ser forte o tempo todo, já que as rasteiras, os tombos e as "bolas nas costas" são inevitáveis ao longo da caminhada. Sem problema assumir pesares e fraquezas.
Se dependesse da minha vontade, meu amigo jamais passaria por este sofrimento. Mas quero permitir-me crer que, mesmo quando tudo parece dar errado, (e às vezes dá) podem acontecer (e acontecem) coisas maravilhosas. A vida é hoje! Então bora viver.
"Escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos" (Clarice Lispector).
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