Anderson França

É escritor e roteirista; carioca do subúrbio do Rio e evangélico, é autor de "Rio em Shamas" (ed. Objetiva) e empreendedor social, fundador da Universidade da Correria, escola de afroempreendedores populares.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Anderson França
Descrição de chapéu

Antes, a gente lia o Apocalipse e pensava que cenário terrível era o fim do mundo

Hoje, é só ler uns posts no Facebook e uma notícia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cachorro implica.

Pode passar anos, o bicho implicou contigo uma vez, daqui a dez anos ele vai implicar de novo. Se ele agarra o ranço contigo, você pode ir morar em Toronto, fazer mestrado e doutorado-sanduíche em Coimbra, largar tudo e virar miçangueiro em Luanda, aí quando você volta e entra numa sala com outras 50 pessoas, o mesmo cachorro vai cheirar todo mundo, vai ficar de boa, MAS COM VOCÊ, NÃO.

Implicância de cachorro devia ser tema de simpósio de veterinário. Não tem que ter motivo aparente, MOTIVO, aqui, não vem ao caso, o critério é do cachorro. E todos nós sabemos que critério de cachorro é país que ninguém governa. 

O bicho pode te amar sem ser correspondido. E te odiar mesmo você tendo sempre um petisco e uma bola pra jogar pra ele. 

É assim que funciona. Todo cachorro tem um Ministério das Alucinações Interiores dentro de si, o mesmo ministério que comanda a igreja evangélica, só que uma versão canina, portanto, mais digna. 

Eu tenho duas cachorras, morando num apartamento de 50 centímetros quadrados. Uma delas implica com gente que veste calça jeans com rasgo no joelho. 

Late, se descontrola. Pois é, eu também não sei o motivo.

Madureira, a cachorra mais velha, implica comigo quando eu sento ao lado dela e chamo, ela e a irmã, Tijuca, de uma maneira Agnaldotimoteânica: “meninos”. 

Já verifiquei, não é por causa de gênero, que elas são super bem resolvidas. Não têm rede social, não frequentam DCE, não se encaixam. São irmãs, e uma pega a outra na maior libidinagem, mesmo sendo esta casa uma casa de chefe de família evangélico. Mas eu não tenho moral nenhuma mais nesta merda. Eu escrevo sobre Jesus, os ESPÍRITAS KARDECISTAS vem me elogiar. Os crente mermo, cagam e andam em Cristo. 

Elas têm um problema é com o jeito Agnaldo Timóteo de ser.

Se eu chamar: "MENINOS, VEM AQUI". Elas vem, e nada ocorre, feijoada.

Mas se eu digo: "BININOÃNS..."

Madureira se contorce em fúria. Fica com mais ódio que MUITA GENTE POR AÍ, DE REPENTE.

Late alto. Rosna. Sai pelo apartamento de 50 centímetros, protestando.

Implicou com o Agnaldo Timóteo, e ponto final. Não tem motivo, ou não tem um motivo aparente.

MOTIVO APARENTE.

Vai que tem. A gente que não entendeu ainda.

E isso me faz pensar na minha implicância com ninguém menos que uma certa pessoa que ocupa um certo cargo público e cujos filhos são diretamente envolvidos em investigações de irregularidades e crimes da barra muito pesada, num determinado estado do Sudeste governado pelo personagem de Pica-Pau, o Calisto. Dê um Google. 

Mais lúdico e protegido juridicamente que isso aqui, impossível. Só escrevendo em línguas estranhas, durante um culto de consagração na Assembleia de Deus em Rocha Miranda.

Eu implico com essa certa pessoa. É tipo Madureira e Agnaldo Timóteo. Desde o dia da fakeada até hoje, 11 de fevereiro de 2020, 10h40 da manhã, estou implicante com ele. 

É isso, óbvio. 

Eu venho do mesmo estado da federação que ele. Morei nas regiões onde ele e os filhos, TERIAM, SUPOSTAMENTE, SÓ DEUS SABE, envolvimento com grupos milicianos que controlam regiões inteiras, disputando com facções criminosas, cobrando pedágio, gás, luz, até imóvel constroem e vendem, e realizam mais homicídios num dia que entregador do Uber Eats aceitando pedido sábado à noite. 

Por isso, qualquer versão de “queima de arquivo”, sinceramente, opto pelo benefício da dúvida. Não faz o menor sentido matar um ex-camarada de crime apenas para ter a imprensa toda em cima de você. Ainda mais se contasse com a ajuda de um policial federal, deputado, filho de presidente e amigo de um subserviente ministro da Justiça, que pode, inclusive, liberar a saída do país. O plot-twist seria deixar o camarada fugir pela porta dos fundos. Fica todo mundo livre, vivo e amanhã estamos falando de BBB. 

Mas é aquela coisa. Não existe um MOTIVO APARENTE para que eu implique tanto com essas pessoas. É o Agnaldo Timóteo da minha vida. Além do mais, eu sou roteirista, e o Brasil deixou de ser um "House of Cards" pra ser um Apocalipse de São João há muito tempo.

Antes, a gente lia o Apocalipse, e ficava pensando que cenário terrível deveria ser o fim do mundo.

Hoje, é só ler uns posts no Facebook e uma notícia. 

A verdade é que ninguém vai, a essa altura do campeonato, saber que versão é a real. Porque não tem mais real. O real é uma questão de gosto. Antes de demolirem a democracia, demoliram o conceito de verdade. 

Bininoãns, vem aqui. 

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.