Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Finanças

Na economia o que muda são as respostas, não os problemas

BM&F Bovespa, em São Paulo; recessão de 2007 ressuscitou algumas das observações de Keynes sobre o papel fundamenta do sistema financeiro no processo de desenvolvimento econômico
BM&F Bovespa, em São Paulo; recessão de 2007 ressuscitou algumas das observações de Keynes sobre o papel fundamenta do sistema financeiro no processo de desenvolvimento econômico - Paulo Whitaker - 9.mai.16/Reuters

As incertezas estruturais produzidas pelo futuro opaco, sobre o qual a única certeza é que não repetirá o passado, somadas às determinadas pelas circunstâncias locais e mundiais tornam sempre muito difícil o exercício da política econômica e a sua crítica.

Um problema interessante é tentar entender quais os fatores que condicionam a formulação de uma política econômica para tentar atingir seus objetivos. 

É possível distinguir pelo menos dois: 1º) o conhecimento de que se dispõe sobre suas consequências, produzido pelo que se supõe ser a “melhor teoria” disponível naquele momento —toda política econômica é portanto, por definição, datada; 2º) porque o futuro é opaco, é preciso, necessariamente, tentar antecipar como ele vai materializar-se e determinar as reações dos agentes econômicos em resposta aos estímulos que ela provocará.

É por isso que as decepções e os erros são frequentes e devem ser analisados criticamente para que não se repitam. Na economia o que muda são as respostas, não os problemas!

É ridícula a utilização da crítica prepóstera como prever o “futuro” quando ele já é o “passado” conhecido. Complementando o que disse Stephen Hawking, “o grande inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”, principalmente daquele obtido por osmose...

Por exemplo, nos anos 1960/70, a maioria dos economistas, por inspiração keynesiana, namorava uma “política de rendas” (controle de salários e preços) para controlar a inflação quando havia estresse no mercado de trabalho. 

Seria o único instrumento, numa economia de mercado, capaz de compatibilizar o “pleno emprego” com a “estabilidade da taxa de inflação”. Um grande número de países desenvolvidos —inclusive os EUA — a utilizou. A exceção, como sempre, foi a Alemanha Ocidental com a sua economia social de mercado.

Como as consequências tardam, mas não falham, e acabam sempre cobrando o seu preço, uma década depois a experiência deu no que deu, na crise dos anos 70. 

Desmoralizado, o keynesianismo hidráulico foi sendo substituído pelo monetarismo delirante, pela incrível teoria das expectativas racionais e pela fantástica hipótese de que os mercados financeiros eram perfeitos e autorreguláveis: teriam uma moralidade ínsita imposta por uma espécie de “imperativo categórico” kantiano.

Hoje sabemos como tudo terminou. A Grande Recessão de 2007 ressuscitou algumas das observações de Keynes sobre o papel fundamental, mas destruidor (já intuído por Marx), do sistema financeiro no processo de desenvolvimento econômico. Quando não regulado com inteligência, ele tende a controlar o sistema produtivo real e o sistema político pondo em risco a democracia.

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