Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto
Descrição de chapéu Eleições 2018

Chega de conversa fiada

Bolsonaro e Haddad precisam reconhecer alguns fatos incontornáveis

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam o segundo turno da eleição presidencial
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam o segundo turno da eleição presidencial - Miguel Schincariol e Daniel Ramalho/AFP

O dia 7/10/2018 consagrou a vitória da democracia. Nela, a cidadania revelou que aprendeu que o voto é sua mais poderosa arma para enfrentar as artimanhas construídas pelos políticos para a sua autopreservação. 

Terminado o primeiro turno eleitoral com dois fanfarrões, é tempo de caírem na realidade e esquecerem as fantasias que esconderam. É preciso que reconheçam alguns fatos incontornáveis, quer pela ideologia, quer pela força.

1º) O “desenvolvimento econômico”, condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento social, é apenas o outro nome da “produtividade do trabalhador”. Os brasileiros só podem consumir ou poupar (na forma de bens de produção que aumentam a produtividade futura) o que eles mesmos produziram.

2º) É fato empírico indisputável: a produtividade do trabalhador depende do estoque de bens de produção e da infraestrutura (capital físico) e do nível de saúde, de educação e de segurança (capital humano) de que ele é portador. 

Para haver crescimento, o estoque de capital (físico e humano) à sua disposição tem que crescer a uma taxa maior do que da força de trabalho que é condicionada pela evolução demográfica. Imune, portanto, ao delírio ideológico e ao fantasma da força. 

3º) É necessário que haja uma harmonia entre o que se consome e o que se investe em cada ano. Um viés sistemático a favor do consumo presente compromete o futuro. Uma ênfase sistemática no investimento reduz o consumo e aumenta as tensões sociais. Os dois programas terminam no fracasso econômico e político.

4º) Existem limites determinados pela oferta de fatores de produção (que podem ser mitigados pelo comércio externo) e pelas identidades da contabilidade nacional. Quando se tenta violá-los, termina-se no caos fiscal, na inflação e nos déficits externos, como vimos em 2012-2016. Pior, levam a uma descrença da atividade política que parece tornar subótima a solução pacífica dos conflitos pela via democrática.

Nas últimas seis décadas (1950-2016) a economia brasileira, aos trancos e barrancos, começou crescendo a 4% ao ano (PIB per capita), enquanto o mundo (aproximado pelos EUA) crescia a 2,4%. 
Entre 1984 e 2016, enquanto o mundo prosseguiu nos seus 2,4%, nosso crescimento reduziu-se a mísero 1,9% ao ano. Relativamente, empobrecemos! 

O que se espera dos candidatos é seriedade: programas alternativos, empiricamente sustentáveis, para inverter essa situação. Felizmente lembram-se, agora, que não precisamos de uma nova Constituição, como pediam ambos com seus autoritarismos orgânicos. Precisamos, mesmo, é começar a praticar —e respeitar— a de 1988!

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