Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Antonio Delfim Netto
Descrição de chapéu Eleições 2018

Eleição

Aplicação de política econômica só terá chance com a cooptação do Congresso

O grande Bismarck, com sua sabedoria animal, afirmou que nunca se mente tanto como depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição. Comprovamos essa verdade em cores na reeleição de Dilma em 2014.

Hoje a vivemos em três dimensões e multicoloridas. O “sentimento” é que a sociedade brasileira está dividida entre duas tribos antropófagas, da qual só pode sair um “desgraçado” vencedor que não suspeita dos problemas que vão destruí-lo.

Todos os candidatos supõem que temos um problema econômico para cuja solução existe uma “ciência” econômica que a provê e da qual o seu “alter ego” é o portador “salvacionista”. 

Talvez a tal “ciência” proposta por cada um deles seja, apenas, a obediência às recomendações de uma igreja, parte de uma religião politeísta, dado o desrespeito que revelam em relação aos cânones do conhecimento empírico cuidadoso que vem se acumulando há séculos numa modesta disciplina que chamamos de economia. É uma pena, porque ela tem ajudado a aumentar o bem-estar dos países que a respeitam.

Os programas dos candidatos são pura revelação de desejos, às vezes contraditórios. 

Têm absoluto desprezo (todos, sem exceção!) pelas limitações físicas (internas e externas) e políticas que condicionam nossa sociedade. 

Alguns são “divinos” (“na hora Eu resolvo”). Outros são patéticos (“vamos voltar ao passado glorioso”, que eles mesmos destruíram). 

Às vezes, são puro delírio: as esquerdas “radicais” se distinguem por sua generosidade infelizmente desinformada da lógica insuperável da contabilidade nacional!

Nosso problema econômico tem causas: 1ª) a disfuncionalidade crescente do processo político; e 2ª) a expansão do desrespeito à independência e à harmonia dos três poderes. 

A mais perfeita política econômica, se existir, não será produto da invenção ad hoc do cérebro peregrino que assessorou o vencedor, mas de cuidadoso suporte empírico. Só terá chance de aplicação, entretanto, se levar em conta outro fato: a necessária cooptação do Congresso!

A sociedade cansou de assistir e perdeu a paciência com os últimos anos de crescimento medíocre. O quinquênio 2012-2016 foi o pior do século e agora se propõe a sua volta. Isso a empurrou para o dilema eleitoral que vive. 

O importante é que as instituições estão vivas e que a Constituição será respeitada, porque é para isso que existe o “garante” do STF. 

O resultado eleitoral, seja qual ele for, será apenas um aprendizado dentro do regime democrático, hoje cláusula pétrea. Será confirmado ou rejeitado livremente nas urnas, depois de uma batalha dura em 2022. É assim que o Brasil avança entre trancos e barrancos...

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