Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino

Até quando?

Circulação do vírus não tem previsão de fim e pode aumentar mais desigualdades

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Com os resultados de vacinas candidatas no horizonte e todo mundo cansado de distanciamento, a pergunta que naturalmente fazemos é: Ok, então quando isso tudo acaba?

A resposta é um grande depende de como e para quem.

Os avanços médicos e sanitários de 1950 a 1970 trouxeram muito otimismo. Vacinas preveniram infecções como sarampo e poliomielite. Antibióticos trouxeram curas impressionantes para infecções bacterianas. E inseticidas como o DDT eliminaram temporariamente mosquitos, o que conteve muitas doenças transmitidas por eles, como malária e dengue.

Pesquisadores chegaram a propor que sairíamos da “era da pestilência” e entraríamos na “era das doenças degenerativas”, onde só sofreríamos de câncer e outras complicações próprias do nosso corpo. Chegamos a acreditar que muitas doenças infecciosas seriam extintas com vacinas. Conseguimos fazer isso com a varíola, mas ela se tornou a exceção.

Acabamos entrando na era das doenças emergentes e reemergentes. Novas viroses como zika, chikungunya e a Covid emergiram de outros animais, enquanto doenças mais antigas como dengue reemergiram em números de casos apesar de vacinas (no caso do sarampo) e de antibióticos (no caso de tuberculose e sífilis).

São precedentes importantes para se pensar na Covid e entender que ela pode continuar circulando dentro da nossa população indefinidamente. Grandes eventos como uma pandemia ou uma guerra raramente terminam em um momento definido do tempo. As tropas alemãs se renderam em 7 de maio de 1945, mas em agosto os EUA ainda lançaram duas bombas atômicas no Japão. E os japoneses conviveram por anos com as consequências dessas bombas. Com a Covid, devemos passar por algo parecido, mesmo se os casos caírem bastante com a imunização através de vacinas.

Estima-se que o vírus deve ter dificuldade para circular em populações onde mais de 65% das pessoas estão imunes. Se a grande maioria dos curados da Covid ou dos imunizados com vacina não pegar o vírus Sars-CoV-2 novamente, devemos atingir tamanha imunidade coletiva por volta de 2022. Sem vacinas, ou se nossa imunidade diminuir a ponto de permitir a reinfecção depois de um ano ou dois, como acontece com outros coronavírus, é provável que esse tipo de proteção só aconteça em 2025.

Independente da data, a dinâmica também será diferente para cada um. Para crianças, que têm menos risco se infectar e desenvolver complicações, a volta às aulas nos países que controlaram melhor o surto vem acontecendo antes de outras aberturas. Para os adultos saudáveis, população na qual as vacinas são testadas, se elas derem certo devem despertar uma imunidade protetora conforme sua distribuição chegar à maioria das pessoas. Já adultos de grupos de risco podem ter que se distanciar por mais tempo, pois o perigo que correm com a Covid é muito maior. E os idosos, população de maior risco e que tem mais dificuldade de desenvolver imunidade mesmo com a vacina, serão os últimos a ter segurança para retomar uma vida próxima do normal.

Por “último”, para quem vive em condições de aglomeração, como os mais pobres ou mesmo a população carcerária, o Sars-CoV-2 deve continuar circulando e sendo uma ameaça de saúde como a tuberculose, mesmo depois de grande parte da população ser imune.

Se já vemos essa tensão entre gerações e classes sociais agora, quando jovens retomam uma “vida normal” enquanto os mais vulneráveis continuam recolhidos, esse dilema deve continuar por bastante tempo. As vacinas podem ser uma saída para muitos, mas precisamos pensar em como vamos acomodar realidades tão diferentes e desigualdades que ainda devem aumentar.

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