Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino
Descrição de chapéu Coronavírus

Precisaremos de novas vacinas?

Por enquanto, mais certo é que precisamos tomar a vacina que tiver no posto

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A variante delta segue conquistando o globo. Já é o coronavírus predominante em grande parte do hemisfério Norte e da Ásia e parece ser uma questão de tempo até conquistar o Brasil, como é de se esperar da variante mais transmissível até aqui.

Felizmente, as vacinas que já temos nos protegem bem. O aumento de casos e principalmente de mortes tem sido concentrado em regiões com baixa vacinação, mesmo nos países que vacinaram mais, como EUA e Inglaterra. As vacinas têm se mostrado tão importantes quanto esperávamos ao investir bilhões nessa saída. Justamente por isso, a transmissão que ainda acontece é preocupante, pois o mesmo processo que tornou o vírus mais transmissível pode ajudá-lo a escapar de vacinas. Vide o que acontece com a gripe.

À primeira vista, pode parecer estranho vacinar uma mesma pessoa várias vezes contra a gripe. A imunidade contra o vírus influenza, o causador da doença, pode durar bastante. Se eu tiver uma gripe e encontrar o mesmo influenza ano que vem ou daqui a cinco anos, ainda terei imunidade protetora. A questão é que o vírus que devo encontrar no ano que vem já não é o mesmo influenza. A vacinação contra a gripe precisa ser renovada porque o vírus muda, não porque nossa imunidade decai.

A resposta imune mais eficiente que conhecemos contra o vírus influenza são os anticorpos que reconhecem e atacam a região que reconhece nossas células. Nossos anticorpos fazem o equivalente a cobrir essa chave do vírus com cimento, dificultando muito a capacidade dele de invadir as fechaduras do nosso corpo. O grande problema é que esse alvo é uma das regiões que o vírus mais muda, pois a seleção natural favorece os vírus mutantes que conseguem escapar dos nossos anticorpos.

Por conta disso, precisamos de um sistema global de rastreio dos vírus respiratórios, que orienta reformulações da vacina da gripe —o mesmo sistema que agora monitora o coronavírus. Duas vezes por ano, a Organização Mundial de Saúde promove encontros que discutem as linhagens de vírus da gripe que são mais preocupantes e com base nesses encontros se decide quais vacinas serão produzidas a cada ano. Estamos nesse jogo de gato e rato entre nossa imunidade e o influenza desde pelo menos 1918, quando ele surgiu em humanos, causando a gripe espanhola.

O coronavírus tem mudado e gerado novas variantes em um passo comparável a esse do influenza. Como ele é um vírus bem mais recente, as mudanças que têm causado mais estrago ainda são as que melhoram sua transmissão e geram variantes como a delta. Mas conforme bilhões de humanos são vacinados contra a Covid, é uma questão de tempo até nossa imunidade ser a força predominante em sua evolução.

E não seria surpreendente precisarmos de uma renovação periódica de vacinas, como acontece com o influenza.

Mas diferente do que acontece com a gripe, temos várias vacinas diferentes contra a Covid, o que pode ser mais estratégico do que uma renovação. Vide o que aconteceu na África do Sul. Ao descobrirem que a variante beta que surgiu por lá é especialmente resistente à vacina da AstraZeneca, o país se desfez de 1 milhão de doses dela em março de 2021. Agora, alguns meses depois, essas doses fazem muita falta, pois a variante delta se tornou a dominante no país e é bem barrada pela vacina da Fiocruz. E conforme outras variantes surgirem, outras vacinas que já temos podem se tornar mais interessantes.

Muito mais certo do que a “melhor vacina”, ou necessidade de novas vacinas ou de uma terceira dose da mesma vacina, é a urgência com que precisamos vacinar todos com a vacina que tiver no posto de saúde.

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