Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich
Descrição de chapéu casamento

Sem namoro o casamento não sobrevive

Namoro é uma condição de qualquer relação amorosa

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Namoro há 23 anos (a mesma pessoa). Telefonamos no meio do dia, nos divertimos com as bobagens do outro, cantamos juntos em shows (gosto musical: requisito básico para uma união dar certo), filosofamos, beijamos na boca, bebemos vinho, trocamos bilhetinhos.

Só que às vezes a gente se esquece que é namorado e brinca de marido e mulher. É quando a juventude da paixão vai embora e o frescor do amor se desbota. Ele se larga no sofá, assiste às suas séries, eu me ligo em outras coisas, amigas, Instagram. Eu exagero nas castanhas. Ele adormece no sofá. Me irrito com o ronco dele, que parece mais alto, apesar de ser o mesmo. Ele não repara no meu cabelo novo, que para ele parece ser o mesmo. O que antes nos encantava, passa batido.

Ilustração da sombra de um casal se beijando em contraste com a Lua
Patou Ricard por Pixabay

Nos sentamos cada um no seu lugar da mesa e jantamos juntos, só que sozinhos, ensimesmados. Reclamamos do peso das responsabilidades, dos problemas do dia a dia, do calor, do frio. Ficamos, ao mesmo tempo, fartos e carentes do outro. Poucas palavras. Nenhuma risada. No máximo um selinho. Adormecemos olhando para o lado oposto da cama. Dormimos casados, na esperança de acordar namorados.

Na linha divisória — eu diria "linha tênue" caso suportasse a expressão — entre o namoro e o casamento, uma mesma situação pode ter duas realidades. No modo casados, brigam com raiva; no modo namorados, com paixão. Casados, se suportam; namorados, se querem. Casados, se queixam da rotina, namorados, a abençoam. Namorados, surpreendem o outro; casados, fazem todo dia tudo sempre igual. Casados, fingem estar dormindo; namorados, esperam ser acordados. Casados, a barba malfeita arranha; namorados, ela faz cócegas. Casados, o ciúme é uma infâmia; namorados, uma pimenta. Casados adiam, namorados têm urgência.

Segundo algumas definições, namoro é um estado transitório, o período em que pessoas se conhecem, mantêm um relacionamento afetivo, para depois materializarem ou não a união. Essa ideia me soa sem graça. Prefiro acreditar na versão do namoro como sendo uma condição eterna (enquanto dure) de qualquer relação amorosa, incluindo o casamento. O casamento não exclui o namoro, mas sem namoro não há casamento que sobreviva.

O convívio prolongado entre duas pessoas, ao mesmo tempo que consolida as raízes, tende a acalmar o desejo do amor nascente. É justamente nessa ambivalência que se equilibra o amor: duas forças opostas agem concomitantemente, uma que nos atrai para o centro em busca da conservação, outra que nos afasta para nos livrar dos fardos que o relacionamento estável impõe.

Quando casados, o coração bate; quando namorados, ele palpita. É por isso que não aguentamos só a intensidade do namoro: o coração não foi feito só para pulsar forte, ininterruptamente. O amor se renova enquanto descansa, para, então, voltar a namorar a mesma pessoa como se fosse o primeiro encontro.

Feliz Dia dos Namorados!

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