Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Descrição de chapéu juros copom Selic

Expectativas de juros baixos vão gerar juros altos

O início do mandato é o momento de mostrar compromisso com inflação baixa

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Para mostrar força a outros machos, elefantes saem correndo derrubando árvores e o que mais encontram pelo caminho. Essa exibição de força consome preciosa energia. Por que esse comportamento passou no difícil teste da seleção natural?

A explicação é que essas exibições de força, em geral, poupam energia. Um elefante que percebe que o outro é muito forte, em geral, desiste de lutar. Assim, conflitos por território ou posições hierárquicas são frequentemente resolvidos sem briga.

Isso me traz à lembrança os dilemas da política monetária que se aproximam.

A principal arma do Banco Central contra a inflação é a taxa de juros. Juros mais altos ajudam a reduzir a inflação, mas afetam negativamente a produção e o emprego.

Então o Banco Central gostaria de controlar a inflação sem ter que aumentar muito os juros.

Quão grande tem que ser o aumento nos juros para controlar a inflação? Isso depende de muitas variáveis, mas uma delas é a expectativa de inflação.

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O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo - Gabriela Biló/Folhapress

Com expectativas de inflação mais alta, o dólar fica mais caro e as empresas ficam mais preocupadas em reajustar seus preços. Isso tudo pressiona a inflação para cima.

Portanto, assim como a um paquiderme interessa reduzir o ímpeto de outros machos, a diretoria do Banco Central quer diminuir a expectativa de inflação.

O elefante reduz o ímpeto de concorrentes exibindo sua força física. Diretores do Banco Central reduzem expectativas inflacionárias mostrando que não têm medo de aumentar juros para conter a inflação.

Como fazer isso?

Aumentando a taxa de juros um pouco mais que o necessário logo no início do mandato. Na hora, é ruim, assim como correr pela savana derrubando árvores, mas evita problemas maiores depois.

Stephen Hansen e Michael McMahon analisaram os dados de votos de membros do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra (o banco central britânico) e mostraram que isso de fato acontece na prática.

Com um trabalho estatístico muito bem executado, eles mostraram que os membros do Comitê de Política Monetária são mais durões no início do mandato. Os resultados indicam que o objetivo parece ser mesmo mostrar não ter medo de aumentar juros.

Um ponto importante que corrobora essa tese é que, quando a pessoa chega ao comitê com expectativa de ser menos dura com a inflação, mais ela se distancia de suas preferências na direção de juros altos, no início do mandato.

Um elefante muito grande não precisa mostrar força.

No caso da política monetária, o elefante grandão é aquele que veio do mercado financeiro e tem cara de mau.

Quem precisa mostrar força é quem sobe ao trono com a tarefa dada pelo presidente da República de reduzir a taxa de juros.

Gabriel Galípolo foi indicado por Lula para assumir para assumir a presidência do Banco Central. Já havia sido colocado no ano passado na diretoria do BC com esse objetivo.

A retórica política precisaria que a saída de Roberto Campos Neto do BC fosse seguida por juros mais baixos.

Contudo, Galípolo sabe que o que Lula lhe pede ele não pode fazer. Juros menores serão interpretados como fraqueza. Se não se mostrar durão no início de seu mandato, as expectativas se refletirão em inflação maior em 2026, ano de eleição. Para o barco não perder o rumo, ele precisará incomodar muita gente.

Esse é o pano de fundo para entendermos os atos e as declarações sobre política monetária nos próximos meses.

Uma implicação é que juros deverão estar altos demais e uma parte da culpa será de quem ocupa o trono e criou expectativas de juros menores.

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