A Irlanda do Norte bateu um recorde esta semana: 589 dias sem governo. A burocracia estatal e os servidores continuam operando, mas um impasse entre os dois maiores partidos locais bloqueia a tomada de decisões complexas e a elaboração de políticas públicas.
No Brasil, o presidente decidiu entregar as chaves do Palácio do Planalto na portaria. Ao liberar aumento de salário para os juízes e o funcionalismo, Michel Temer praticamente abriu mão de governar até a chegada do próximo inquilino.
O presidente parece ter se cansado de brigar com seus índices de impopularidade. Abandonou o marketing reformista que tentou emplacar em seu mandato. A quatro meses de deixar o poder, jogou a proverbial pá de cal no ajuste da máquina pública que pretendia deixar como legado.
Preso entre a crise econômica e as pressões do corporativismo, Temer abdicou da responsabilidade de um presidente. Cedeu ao Judiciário e aos servidores públicos, liberando um agrado que deve ter um impacto de pelo menos R$ 8 bilhões no ano que vem. Fosse um mandatário forte, teria encarado juízes e funcionários pelo bem dos cofres nacionais.
A conta ficará pendurada. A engorda da máquina governamental deixará para o Orçamento de 2019 investimentos no menor patamar dos últimos dez anos. Temer e o Congresso atual não alimentaram essa fera sozinhos, mas permitiram que o monstro furasse a dieta forçada.
O país gasta muito dinheiro com despesas obrigatórias, salários, aposentadorias e outros custos dessa natureza. Sobra cada vez menos para aplicar em infraestrutura, inovação, serviços públicos mais eficientes e medidas que gerem empregos.
Com as contas apertadas, o próximo presidente teria quase tanto poder quanto a burocracia da Irlanda do Norte. O serviço estatal continuaria funcionando, mas não sobraria muita liberdade para governar.
Quem for eleito em outubro encontrará o gabinete presidencial trancado. Será obrigado a enfrentar as corporações e arrombar a porta.
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