Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Lula joga xadrez errático ao vender despreocupação com militares

Petista diz que não terá 'conversa especial' com fardados, mas emissários já tentam criar pontes

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O ex-presidente Lula diz que não terá nenhuma "conversa especial com as Forças Armadas" durante a campanha ao Planalto. Em entrevista a uma rádio de Porto Alegre, na semana passada, o petista afirmou que vai tratar os militares com respeito, mas rejeitou um aceno ao grupo.

Ele repetiu a ideia na segunda-feira (16), durante viagem ao Nordeste. "Eu não tenho conversa com os militares", declarou. "Quando eu ganhar, eu vou conversar, porque aí eu vou ser chefe deles e vou dizer o que eu penso e qual é o papel deles."

Nos bastidores, a história é diferente. Lula destacou ex-ministros da Defesa da era petista para conversas com militares, incluindo integrantes do Alto Comando do Exército. O objetivo é traçar um diagnóstico das inclinações políticas nas Forças Armadas, tentar refazer pontes e reduzir a oposição a seu nome no topo das cadeias de comando.

Luiz Inácio Lula da Silva com o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, na comemoração do Dia do Exército em 2008 - Alan Marques/Folhapress

Na cúpula petista, há o entendimento de que o cenário nos quartéis é conturbado: parte dos altos oficiais aderiu ao projeto de Jair Bolsonaro e, portanto, gestos de aproximação seriam bem-vindos. O ex-presidente admite isso reservadamente, tanto que já cogitou publicar um artigo para lembrar ações de seu governo na área de defesa (mas desistiu).

Lula joga na direção contrária ao vender, em público, uma despreocupação com a farda. A leitura do petista e de seus aliados é que uma conversa com militares soaria como um pedido de permissão para disputar a Presidência —ideia que ele rejeita. Além disso, o ex-presidente entende que um contato direto poderia acirrar os ânimos políticos nas Forças.

O xadrez errático alimenta a tentativa bolsonarista de estabelecer um monopólio entre os militares. Depois das entrevistas de Lula, aliados do presidente passaram a explorar uma declaração em que o petista tratou com ironia a passagem de integrantes das Forças pelo Ministério da Saúde. "Eles botaram na cabeça que são superiores, eles botaram na cabeça que são mais honestos, e a CPI está mostrando o que aconteceu", afirmou o ex-presidente.

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