A expansão precoce do elenco que manifesta apoio a Lula mexe em alguns parâmetros da frente ampla que os petistas trabalham para construir. Quando adesões do tipo aparecem no segundo turno, o movimento é interpretado pela ótica do pragmatismo, já que a escolha é restrita. No primeiro, elas podem ter peso simbólico para mudar expectativas em relação a um futuro governo.
Em alguma medida, a chegada de políticos de centro-direita ao palanque do petista carrega esse potencial. Henrique Meirelles declarou voto em Lula e posou como uma espécie de selo para a economia. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sinalizou apoio indicando uma convergência com a plataforma social do sucessor.
O motor da aproximação desses e outros atores com Lula é a oposição a Jair Bolsonaro. Eles tratam a derrota do presidente como prioridade e veem o petista como único candidato competitivo. Ainda assim, fizeram questão de destacar pontos de contato na agenda de governo.
Lula aceitou o gesto com satisfação. O ex-presidente e sua equipe de campanha entendem que a aparência programática desses acordos reduz resistências em grupos que se identificam com tucanos, ex-tucanos e outros personagens.
Trata-se de um caminho que pode ser eleitoralmente eficaz, mas que também representa um desafio.
Ainda que declare a intenção de adotar uma agenda que represente seus principais aliados, Lula faz questão de manter uma natural discrição sobre cargos e um reprovável mistério sobre tópicos de seu programa. A tática faz parte do jogo, mas aumenta o risco de frustrações.
Se as decisões de um novo governo se desviarem do que esperam atores como Meirelles e companhia, algumas críticas serão inevitáveis. A união de políticos divergentes é uma ferramenta poderosa, mas os danos causados por eventuais deserções também têm magnitude maior.
Lula pode subir a rampa cercado por uma frente ampla, mas precisará de habilidade para mantê-la assim.
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