Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Movimento bolsonarista reflui e radicaliza

Eleitor puramente antipetista parece ter abandonado o presidente

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O bolsonarismo como movimento político está refluindo, e Bolsonaro tenta compensar isso com golpe de Estado e uso da máquina.

Os bolsonaristas inteligentes sabem que a eleição de 2018 foi uma mistura de contingências que não devem se repetir: a facada, a desistência de outsiders como Joaquim Barbosa e Luciano Huck, a prisão de Lula, o casamento entre bolsonarismo e lavajatismo, o naufrágio das candidaturas ligadas a Temer. Essa onda atraiu as elites econômica e política para Bolsonaro nas últimas semanas do primeiro turno. Agora a onda refluiu e o sistema busca alternativas.

O voto puramente antipetista parece ter abandonado Jair. Sua taxa de aprovação é semelhante à proporção do eleitorado que o apoiava antes da disparada no primeiro turno.

Manifestante em defesa do governo Bolsonaro, durante ato em Brasília, em maio
Manifestante em defesa do governo Bolsonaro, durante ato em Brasília, em maio - Pedro Ladeira - 26.mai.19/Folhapress

É cada vez menos claro o que, exatamente, Bolsonaro tem a oferecer como programa econômico que seus concorrentes na direita não tenham. Suas únicas propostas que não estavam nos programas de Alckmin e Meirelles —a capitalização da Previdência e a CPMF— foram fracassos constrangedores. Se você gosta de ortodoxia econômica, é pouco provável que Bolsonaro seja sua única alternativa de voto em 2022.

A propósito, os dois principais governadores eleitos na onda bolsonarista —​Doria e Witzel— já tentam se afastar de Bolsonaro.

E já não é mais possível para a centro-direita repetir o argumento de que Bolsonaro seria moderado pelas instituições, ou que o PT traria o mesmo risco à democracia. Não há nenhum outro político ou partido brasileiro que, se tivesse vencido, teria criado o mesmo risco permanente de golpe de Estado instaurado por Bolsonaro. Se o empresariado apoiar Bolsonaro de novo, sua ruptura com a democracia será consciente e final.

Mas mesmo os 25% de aprovação de Bolsonaro não são estáveis. A chance de Bolsonaro representar a Lava Jato de novo na eleição é zero. Já está claro que Bolsonaro está tendo muito mais sucesso em destruir as instituições de combate à corrupção do que seus antecessores.

Os procuradores da Lava Jato já denunciaram Bolsonaro como adversário. A permanência de Moro no ministério é cada vez mais constrangedora. Essa percepção mal começou a chegar à opinião pública.

Sobram os fanáticos de Olavo de Carvalho e Eduardo Bolsonaro, mas seu extremismo sobreviveu muito mal à atenção do público. Quando o Brasil parou para ler Olavo e escutar Eduardo, só sobrou vergonha. O olavismo só sobrevive como senha para conseguir cargos de segundo escalão nas áreas do governo controladas pelos extremistas.

Resta a máquina. O aparelhamento bolsonarista das instituições segue acelerado, e o uso da máquina contra os adversários do governo —em especial os de direita— mal começou. O esforço para cooptar mídia amigável é aberto e desavergonhado. É usando a máquina que o PSL espera conquistar mil prefeituras no ano que vem.

E é justamente porque o movimento está refluindo que Bolsonaro acelerou o golpismo. Em menos de dez dias tivemos o "levantar a borduna", os ataques à imprensa e o tuíte de Carlos Bolsonaro. Querem isolar seus militantes do noticiário e mantê-los radicalizados.

Não é o primeiro caso em que um movimento autoritário radicaliza quando começa a perder. O risco pode ter aumentado.

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