Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Coleira de Tarcísio levada por Bolsonaro é mais curta que a de Carluxo

Governador empresta prestígio de SP para ajudar ex-presidente a fugir da cana dura

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pretende ser o rosto de uma nova direita brasileira, moderna e moderada. Sua capacidade de desempenhar esse papel sempre dependeu do comprimento da coleira pela qual Jair Bolsonaro o leva. Na semana passada, descobrimos que ela é mais curta do que a do Carluxo.

Na última segunda-feira, dia 12, Bolsonaro convocou uma manifestação para que o resto da direita brasileira lhe dê parabéns por ter tentado um golpe de Estado e fugido pra Disney. Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Ricardo Nunes já confirmaram presença.

Governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes após apresentação de resultados do primeiro ano da sua gestão - Eduardo Knapp - 19.dez.23/Folhapress

Com a manifestação, Jair quer provar que é um político normal como Tarcísio, Caiado ou Nunes. Na verdade, provará que Tarcísio, Caiado e Nunes são tão aberrantes quanto Jair Bolsonaro, um marginal prestes a ser preso por tentar destruir a democracia brasileira.

Quem comparecer à reunião na avenida Paulista terá confessado sua participação na ofensiva golpista de 2022, bem como sua disposição para aderir a atentados semelhantes no futuro.

Vejam o caso de Silas Malafaia, que foi quem deu ao Jair a ideia da manifestação.

Em 28 de novembro de 2022, Malafaia gravou vídeo dizendo: "Senhor presidente Jair Messias Bolsonaro (...) o senhor tem poder de convocar as Forças Armadas pra botar ordem na bagunça que esse ditador [Alexandre de Moraes] fez. Se os militares não quiserem te obedecer, é Código Penal Militar, artigo 5º e o 319, são presos!".

Entendo perfeitamente, portanto, que Malafaia tenha interesse em melar as investigações sobre o golpe. Que autoridades militares Silas estava ameaçando de prisão com sua referência ao Código Penal Militar? Em nome de que militar golpista ameaçava os legalistas ou tentava impressionar os indecisos? Estava alinhado com Braga Netto ou Mauro Cid, que tentaram derrubar o comandante do Exército, general Freire Gomes?

Quantas outras pessoas, além do nosso ilustre Silas, querem chamar atenção sobre sua atuação no final de 2022 comparecendo ao ato na Paulista? Torço para que muitas.

Algumas das adesões à manifestação eram esperadas, porque foram de gente de quem não se espera muita coisa.

Ronaldo Caiado, por exemplo, chegou a romper com Bolsonaro no começo da pandemia. Como médico, sabia que Jair mataria centenas de milhares de brasileiros com sua sabotagem contra o isolamento social e a vacinação. Mas o soluço de honradez de Caiado passou. Voltou a apoiar Jair depois de centenas de milhares de brasileiros terem morrido, como Caiado sabia que morreriam. Ele só parou de se importar.

O mais triste é ver Tarcísio emprestando o prestígio de São Paulo para ajudar Bolsonaro a fugir da cana dura. Nos primeiros meses de 2021, São Paulo sozinho abasteceu os brasileiros com vacinas contra a Covid-19. Por que a força do estado de São Paulo deve ser usada para acobertar os crimes de Bolsonaro, que mentia que vacinas causavam Aids?

Enfim, Bolsonaro continua capaz de controlar seus aliados envolvendo-os em seus crimes e deixando que o medo da polícia lhes inspire um sentimento de solidariedade.

Obrigado, Jair, por demonstrar que não há nada no bolsonarismo, em sua vizinhança ideológica ou em seu perímetro oportunista, que possa ser usado para a construção de uma nova direita democrática no Brasil.

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