Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Escolas, armas e cidadania

Jovens se tornam protagonistas na luta por um país melhor e aprendem como nunca

Estudantes fazem protesto em Washington, nos EUA, após ataque ataque a tiros em escola na Flórida que deixou 17 mortos; um dos jovens segura um cartaz que pede o fim da NRA (Associação Nacional do Rifle)
Estudantes fazem protesto em Washington, nos EUA, após ataque ataque a tiros em escola na Flórida que deixou 17 mortos; um dos jovens segura um cartaz que pede o fim da NRA (Associação Nacional do Rifle) - J. Scott Applewhite/AP

Desde o dia 14 de fevereiro, quando um jovem abriu fogo numa escola, matando 17 jovens e deixando vários feridos, num episódio recorrente na história recente dos Estados Unidos, as reações já conhecidas vêm ocorrendo: os jornais escreveram editoriais sérios a respeito, políticos disseram que algo deve ser feito para controlar o acesso às armas e alguns chegaram a dizer que não aceitarão mais doações da NRA (a toda-poderosa associação de produtores de rifles).

Algo novo, no entanto, emergiu e não veio de políticos e nem sequer de outros adultos. Os alunos se mobilizaram e partiram para o Capitólio, confrontaram os políticos, deixando clara sua posição contra a facilidade com que pessoas com problemas mentais compram armas, entre as quais as de assalto ou de guerra, como a utilizada.

Vários usaram as redes sociais ou blogs e criaram, junto a suas comunidades, reais ou virtuais, encontros em que repetiam: “Chega de armas”.

Mobilizações de estudantes acabaram ocorrendo em todo o país e alguns secretários de educação chegaram a ameaçar de suspensão quem se manifestasse, o que levou universidades de ponta a publicarem cartas em que assumem o compromisso de desconsiderar, no processo de admissão de alunos, suspensões vinculadas ao movimento estudantil.

Algo de diferente vem, de fato, ocorrendo com esses jovens que, frente à impotência dos adultos em criar um ambiente protegido para o aprendizado e um futuro mais pacífico, resolveram sair do banco de trás e ser protagonistas na luta por um país melhor. Nesses dias, a despeito de todo o sofrimento, eles aprenderam como nunca.

De fato, aprender guarda forte relação com transformar a realidade. Aprendemos mais quando somos solicitados a resolver problemas reais de nossa comunidade e, num processo colaborativo, servimo-nos dos conceitos que nos foram ensinados para enfrentá-los. Dessa maneira também nos transformamos, como bem coloca Michael Fullan em sua recente obra, “Deep Learning” (aprendizagem profunda, em português), sobre experiências educacionais em redes públicas de sete países.

Daí porque é tão importante educar para valores e atitudes, como estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 e, em especial, para o protagonismo dos jovens alunos. Aprender que somos responsáveis pela nossa própria aprendizagem e pela construção de nosso futuro faz muito sentido e forma para a independência.

Mais interessante ainda é o fato de que, ao fazê-lo, desenvolvemos as chamadas competências para o século 21, solução de problemas, trabalho colaborativo, empatia e persistência que irão nos preparar para uma sociedade incerta e em contínua transformação.

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