Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Conversas intergeracionais

O que nossos descendentes vão querer saber sobre o que vivíamos e pensávamos em 2019?

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Vivemos tempos conturbados, em que não está realmente claro o que o futuro nos reserva. Sinais contraditórios apontam ora riscos incalculáveis para o processo civilizatório, ora novas possibilidades a serem exploradas. Neste contexto, a desconstrução de avanços que tivemos na agenda ambiental, a perda da gentileza nas relações interpessoais e oficiais e o negacionismo histórico ou científico convivem com inventos que prometem tornar o trabalho humano menos árduo e as informações acessíveis a todos os que delas necessitam.

Curioso que a época se assemelha, em alguns aspectos, ao que se viveu no final dos anos 1910 e 1920, era em que as discussões foram tão bem retratadas por Wolfram Eilenberger em seu livro “Tempo de Mágicos”. Nele, grandes pensadores aparecem reunidos para pensar um mundo que se revelava nos escombros da Grande Guerra enquanto nuvens encobriam a percepção do futuro de grande sofrimento que se avizinhava. 

Este sentido do tempo e da nossa dificuldade em prever, em detalhe, processos e climas de época em transformação me leva, muitas vezes, a pensar em conversas que não tive com meus pais. Não se enganem, minha família costumava falar, na mesa de jantar, de experiências vividas pelos mais velhos, em seus países de origem. Meu pai, um romeno de nascimento, saiu de seu país quando, nas ruínas da Segunda Guerra, um governo stalinista assumiu o poder. Já minha mãe conseguiu fugir com seus pais de Budapeste, em 1944, e aqui conheceu o marido e construiu sua nova vida e identidade.

Revolução contra o regime comunista do ditador Nicolae Ceausescu em Bucareste, capital da Romênia, em 1989 - Reuters

Sim, falávamos de tudo, mas quantas perguntas tenho hoje que gostaria de ter feito a eles e aos seus pais. Sentiram o desastre se aproximando? Como eles e seus amigos reagiram aos primeiros sinais de que algo não estava bem? Negaram os riscos porque seria mais cômodo?

Também os mais jovens têm a contribuir neste debate intergeracional. Quantas vezes não tive que ajustar minhas percepções ao ouvir meus filhos, netos e mentorados refletirem sobre algo que os preocupava? Entender o presente “zeitgeist”, ou espírito de época na sua tradução para o português, pode ser uma forma de minha geração, que daqui a pouco deixa o planeta, sair da lenga-lenga, repetida desde que o mundo é mundo, de que os jovens são inconsequentes e descompromissados. 

Meu irmão, um ano mais jovem que eu, está agora tentando construir nossa árvore genealógica. Logo figuraremos lá com data de nascimento e morte. O que nossos descendentes vão querer saber sobre o que vivemos em 2019 e o que pensávamos então? As respostas podem ser dadas hoje, em jantares de família. Vamos começar a conversar?

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