Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Uma judia, a Quaresma e a Campanha da Fraternidade

A atual campanha busca superar polarizações e violências por meio do diálogo

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Escrevo a coluna na Quarta-feira de Cinzas, dia sagrado para os católicos. É o primeiro dia da Quaresma e inaugura um período de reflexão e "conversão" ou mudança de vida, frente à transitoriedade da vida. Tenho consciência de que, como judia, não sou a pessoa mais indicada para sugerir práticas para que esse processo espiritual seja bem conduzido.

Mas a convivência com diferentes culturas e tradições permitiu-me ver como quase todas trazem rituais e datas para lidar com nosso aperfeiçoamento pessoal e coletivo.

David Brooks, professor de Yale e colunista do New York Times, em seu "The second mountain", mostra que o autoaperfeiçoamento se inicia em momentos de reflexão como os que muitas religiões incluem em seus calendários litúrgicos, mas só se completam de forma relacional, na conexão com o outro, num processo empático, de solidariedade e de construção coletiva.

Nada mais oportuno para o tempo de "conversão" pessoal que se inicia nesta quarta-feira que a situação em que nos encontramos com a pandemia.

Sim, vivemos tempos desafiadores, mas ganharíamos todos se conseguíssemos reservar alguma energia para pensar em que tipo de ser humano gostaríamos de nos constituir e que humanidade gostaríamos de ver construída, após todo o sofrimento vivido.

Isso passa por questões que vêm sendo iluminadas pelo isolamento que tivemos que enfrentar, como a desigualdade social profunda entre os lares mais afluentes e os vulneráveis, o acesso ainda muito desigual a serviços de saúde, inclusive na presença de fura-filas no processo de vacinação, a aprendizagem diferente entre crianças de famílias que puderam contratar professores particulares e tiveram acesso a plataformas digitais e livros, enquanto outros aprenderam de forma, no mínimo, limitada e tenderão a ver seus sonhos de futuro desabarem.

Além disso, há atitudes individuais que precisam ser repensadas, defendidas, por certo, em nome da liberdade pessoal, mas resultando, na prática, em danos aos demais, como a de não usar máscaras e a de não se vacinar. Em ambos os casos, contribui-se para o prolongamento da pandemia e contaminam-se pessoas.

Mas há também outras oportunidades de aperfeiçoamento pessoal e coletivo que não ficaram tão visíveis durante a crise que vivenciamos. A situação do desmatamento, agravada neste período, e a lentíssima recuperação econômica, que não se vem traduzindo em retorno dos postos de trabalho perdidos. Para tanto, contribui muito a recém-lançada Campanha da Fraternidade, com um tema que busca superar polarizações e violências por meio do diálogo. Palavras de uma judia!

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