Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Aprendendo com a história do Brasil

Governantes são pessoas concretas, não mitos salvadores da pátria

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Na semana em que escrevo esta coluna, duas datas marcantes na história do Brasil são relembradas: o suicídio de Getúlio Vargas, ocorrido no dia 24 de agosto de 1954, e a renúncia de Jânio Quadros, no dia 25 de agosto de 1961. Nos dois casos, trata-se do encerramento abrupto de mandatos, em circunstâncias que aprofundaram crises pré-existentes.

Poucos irão se dar conta de que, com só sete anos de diferença, o Brasil viveu duas rupturas institucionais importantes. É verdade que os tempos eram conturbados não só no Brasil, afinal, houve deposição ou renúncia de líderes em outros países e um acelerado processo de descolonização na África e na Ásia, assim como de disputa por áreas de influência ao redor do mundo.
Mas há certamente lições a aprender a partir dos eventos aqui ocorridos, e vale a pena analisar cada um deles.

O suicídio de Vargas acabou com um dos líderes que, como bem mostra Lira Neto em sua magistral trilogia biográfica, cometeu erros grandes e pequenos, mas também deixou marcas e legados duradouros no nosso país. Se hoje podemos falar de uma economia ainda diversificada, foi graças ao empenho de Getúlio —por vezes contra seu impulso inicial— em criar uma infraestrutura para que o setor privado pudesse aqui se instalar com chances de sucesso.

Além disso, a legislação trabalhista era moderna para a época, embora com a importação de algumas ideias vindas do fascismo italiano. Foi também, sem sombra de dúvidas, um estadista, mesmo que parte de suas ideias não faça mais tanto sentido hoje.

A renúncia de Jânio, homem midiático, diríamos na linguagem de hoje, eleito para combater a corrupção, tendo como única ideia-força o “varre, varre vassourinha” e sem propostas de políticas públicas transformadoras, parece ter sido parte de uma estratégia política para se fortalecer no poder, mas que acabou não surtindo os efeitos por ele desejados. Com isso, abriu espaço para a posse de Jango e para um acordo, envolvendo os militares, de estabelecimento de um natimorto regime parlamentarista e, depois, para o golpe de 1964.

Multidão presente ao comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1964, em defesa das reformas de base do governo João Goulart - C. Bosco/Acervo UH/Folhapress

Por que destaco esses fatos? Para lembrarmos que são pessoas concretas, não mitos salvadores da pátria que têm o mandato para liderar o país. Acertam e erram, mas têm que enfrentar o duro desafio de governar, de implementar boas políticas públicas. Também para evitar o crescimento de visões conspiratórias ou simplificadoras da história do Brasil e, alternativamente, ensinar as novas gerações, nas escolas, a pensar historicamente e a olhar governantes com base em seus legados concretos, não em eventos midiáticos destinados a meramente arrebanhar seguidores.

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