Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Minha pátria é minha língua

Que bom que não deixaram morrer o Museu da Língua Portuguesa

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Foi reinaugurado, há poucos dias, o Museu da Língua Portuguesa, reconstruído após um incêndio que o destruiu em dezembro de 2015.

O triste episódio marcou-me de maneira especial, afinal participara como secretária estadual de Cultura de sua construção, iniciada na gestão de Marcos Mendonça, e pude ver seu importante papel na disseminação da beleza do português, em suas múltiplas variantes e na rica produção literária em língua portuguesa. Estava, no ano do incêndio, em Washington, trabalhando no Banco Mundial, e era como se tivessem destruído parte do que me dava identidade.

Sim, minha conexão com o museu transcende meu papel institucional à época de sua criação. Explico-me: o português não é minha primeira língua, apesar de ter nascido no Brasil. Meus pais, ambos refugiados, falavam entre eles francês e, durante muito tempo, foi essa a língua falada em casa. Adquiri o português na escola e o consolidei na constante leitura de livros infantis proporcionada pela Biblioteca Monteiro Lobato, aonde ia todas as tardes depois da aula.

O museu, erguido em São Paulo, cidade que recebeu tantos imigrantes, inclusive das maiores ex-colônias portuguesas de todo o mundo, destaca-se na Estação da Luz, formando com ela uma unidade que se projeta para o outro lado da rua, onde se localizam a Pinacoteca do Estado e o Jardim da Luz, compondo um polo cultural interessantíssimo.

Que bom que não o deixaram o morrer! Havia nele, já à época da inauguração, na primeira década do século 21, uma combinação de antigo e novo, com uso intenso de tecnologia e um rico acervo com documentos históricos e material de apoio a estudos etimológicos. E, na reconstrução, dados os avanços digitais que tivemos nos últimos anos, esse diálogo entre os tempos, espaços e "falares" se intensificou.

A cerimônia de reinauguração contou com a presença dos presidentes de Portugal e de Cabo Verde, país em que vivi nos anos 1980, representantes dos demais países lusófonos e ex-presidentes do Brasil. Na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou a instituição com a Ordem de Camões.

Lembrei-me, ao celebrar a reabertura, do importante papel que teve o Francisco Weffort, como ministro da Cultura, no esforço para criar esse importante e inovador espaço dedicado à língua. Ele, já hospitalizado na ocasião, faleceu alguns dias depois.

O populismo, tema recorrente do cientista político, não gosta de museus, muito menos os que celebram tanto o que nos une a outros países lusófonos quanto as línguas indígenas que nos enriquecem. "Minha pátria é minha língua", dizia Fernando Pessoa, e é nela que me encontro e reencontro.

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