Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Os livros e a passagem do tempo

Minha lista de livros se modifica com acréscimos e abandonos

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Entre os livros da minha biblioteca, há um do Henry Miller, que herdei do meu tio-avô, "Os Livros da Minha Vida". Desde sua leitura, a cada fim de ano penso nas obras que deveria incluir se escrevesse texto semelhante.

No entanto, minha lista se modifica, com acréscimos e abandonos resultantes não apenas de leituras recentes como da mudança do meu olhar sobre o mundo. Há obras que me encantaram na adolescência, mas não resistiram a uma releitura, e há outras publicadas ou lidas depois que ofuscam parte das demais.
O grande teste de um livro é sobreviver ao tempo e a nossas frequentes mutações. Ou melhor ainda, permanecer, tempos depois, uma obra que instiga ou dá prazer estético.

Olhando para leituras mais antigas, sem pedantismo, devo citar "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust. Sim, ele mesmo, que me fez sentir ciúmes da Albertine simplesmente ao descrever o sentimento que se apoderava do narrador e olhar com surpresa e asco para o barão de Charlus. Ele sobreviveu a minhas leituras posteriores, sem perder o brilho.

Mesma sorte não teve "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, de que muito gostei ao ler há mais de duas dezenas de anos e que não se mantém na lista das melhores, apesar de eu continuar apreciando a obra. Já "Grande Sertão: Veredas" (e tudo o que Guimarães Rosa produziu) me fala à alma desde a primeira vez que li. A segunda foi com um grupo de jovens de escolas públicas de São Bernardo, organizados num dos círculos de leitura do Instituto Fernando Braudel, em que atuei como facilitadora. Lembrar os olhos deles brilhando quando discutiam trechos da obra me fascinou.

Apesar da repulsa de Paulo Francis ao sabê-la laureada com o Nobel de Literatura, apaixonei-me por Toni Morrison, em especial por sua obra "Amada", que lembra, em alguns aspectos, o realismo fantástico de alguns autores latino-americanos, entre eles Gabriel García Marquez, que, com seu "Cem Anos de Solidão", continua na lista. Também prossegue Mario Vargas Llosa, ainda não bem perdoado por ter se candidatado a presidente do Peru. Dele guardo o "Tia Júlia e o Escrevinhador" e a "Guerra do Fim do Mundo", obras inesquecíveis.

O livro que me tomou um ano de leitura e fez-me pesquisar cada alusão foi "Ulisses", de James Joyce. Pude, anos depois, visitar na Irlanda a torre em que reaparece Stephen Dedalus —que eu já conhecia do "Retrato do Artista quando Jovem"— e o cenário da jornada de Leopold Blum.

Mas a publicação recente que li neste ano pandêmico, tirou-me o fôlego e entrou na lista é "Torto Arado", de Itamar Vieira. Nasceu clássico e vai, certamente, desafiar a passagem do tempo.

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