Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin
Descrição de chapéu Rússia

A defesa da democracia e os riscos de retrocessos

Governos autoritários atuam para desacreditar o jornalismo profissional

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Li recentemente dois livros que me ajudaram a entender alguns dos desafios que o mundo vive hoje: a biografia do Putin, escrita em 2012 pelo jornalista russo-americano Masha Gessen, sob o sugestivo título "The Man without a Face", e a obra recém-publicada da cientista política americana Barbara Walter, "How Civil Wars Start".

Os dois escrevem sobre a dificuldade de se lidar com transições de regime e o quanto instituições recém-criadas se expõem à captura por interesses políticos e econômicos. Mostram também que retrocessos políticos são bem possíveis.

Masha Gessen descreve a ascensão de Putin, um presidente improvável que desconstruiu os pequenos avanços na consolidação de instituições democráticas ocorridas sob Ieltsin, e sua carreira meteórica patrocinada inicialmente pelo oligarca Berezovsky. Para além de concentrar poder, deu um passo adicional, ao longo dos anos, ao acabar com a independência da mídia e mesmo de empresários, inclusive Berezovsky, que teve que se exilar.

Processo semelhante ocorreu na Hungria, com Orbán, também numa transição difícil para a democracia, que acabou não vingando e, ao contrário, abriu caminho para uma cleptocracia, como mostra o excelente livro de Balint Magyar, "The Mafia State".

Já o texto de Walter, ao refletir sobre os riscos dos Estados Unidos, inclusive em tempos de redes sociais e do que ela chama de "empreendedores étnicos" que exploram tensões étnicas e culturais para ganhar prestígio e poder, traz a constatação de que autocratas em projeto se beneficiam de instituições frágeis, daí a ênfase em desqualificar os outros Poderes. Afinal, não se constroem autocracias com um Judiciário independente.

Da mesma maneira, é preciso silenciar a imprensa, e não apenas com censura: governos autoritários promovem campanhas para desacreditar o jornalismo profissional —que pode ser processado se publicar inverdades— e substituí-lo por canais mais heterodoxos, inclusive por meio de achaques e ameaças a empresas de mídia e a jornalistas.

Masha que o diga. Foi espancado, ameaçaram tirar-lhe os filhos e teve que sair da Rússia. Muitos outros profissionais da imprensa tiveram a mesma sorte e outros foram assassinados, alguns por envenenamento. Há, infelizmente, muitas maneiras de calar quem diverge ou apresenta riscos de se tornar uma alternativa de poder.

Por isso faz tanto sentido, especialmente num ano eleitoral, não permitirmos nenhuma forma de fragilização das nossas instituições, ainda adolescentes. Democracia, como dizia Churchill, é o pior tipo de regime fora todos os outros. Afinal, não há ditadores benevolentes!

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