Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Claudia Tajes
Descrição de chapéu

Estamos fechados com Bolsonaro, o mundo bateu a porta na nossa cara

Ninguém entra, ninguém sai, ninguém nos quer

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Nunca, jamais, qualquer revelação de um filho provocaria, na gigantesca maioria da humanidade, a medonha reação que papai Bolsonaro manifestou na frase “prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Ainda assim, quando o meu próprio rebento largou um “fechados com Bolsonaro!” no meio da sala, pensei que toda a nossa relação de amor estava abalada para sempre.

Ledo engano, felizmente.

Ilustração para a coluna de Claudia Tajes de 1º.jun.2020
Cynthia Bonacossa

Fechados com Bolsonaro é como nós estamos, agora que vários países bateram a porta na nossa cara. Fechados e sem ter para onde correr. Naquele dia, o Uruguai acabava de trancar a Fronteira da Paz, ali onde a cidade gaúcha de Santana do Livramento se encontra com a hermana Rivera, e os dois países viram uma rua só. Ou viravam. Com o melhor desempenho da América do Sul no combate ao coronavírus, o Uruguai preferiu não se arriscar recebendo os brasileiros que todos os dias iam e vinham para uma compra, um mate, uma charla. São pouco mais de 20 vítimas da doença lá contra quase 30 mil aqui. Fecha e joga a chave fora.

O Uruguai nos cancelou logo depois de Trump fazer o mesmo. “Best friend forever” —pode chamar de BFF para ficar mais atual— de Bolsonaro, o igualmente alucinado líder do país com o maior número de mortos na pandemia não quis nem saber. Continua irmão camarada de Bolsonaro na cruzada pela cloroquina, mas cada um no seu quadrado. Cada qual com seus problemas, e a milhares de quilômetros. Se der saudade, Jair terá que se contentar com a foto 3 x 4 de Donald que ele, por certo, leva na carteira.

Também o Paraguai e a Colômbia fecharam as fronteiras para o Brasil para conter o avanço da Covid-19 em seus territórios. Claro que inúmeros países, em todos os continentes, tomaram a mesma providência. Ninguém entra, ninguém sai. Mas diante da nossa nova e pouco honrosa posição de epicentro, e do obscurantismo das autoridades para enfrentar o vírus, o Brasil acaba por merecer um cartão vermelho especial. Pensar que, há pouco tempo, ser um brasileiro pelo mundo pegava tão bem. Antes: samba, Pelé, Carnaval. Agora: Bolsonaro, ignorância, doença.

Fechados aqui dentro com a truculência de um presidente desesperado, com ministros que parecem saídos do júri do Silvio Santos, com generais que brotam do nada, com as ameaças diárias de paranoicos e outros desqualificados. E o Uruguai, que era tão perto, vai ficando mais distante que a Atlântida perdida

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