Em seu novo livro de entrevistas, o papa Francisco não apenas declarou que o prazer sexual e o prazer gastronômico são coisas de Deus, como recomendou aos cristãos que os aproveitem.
Mais ou menos o que a humanidade já vem fazendo desde que o mundo é mundo, mas agora com selo papal. Um ISO 9000 divino para esfregar na cara de uns e outros.
O Deus que gosta da alegria, com certeza, não é o mesmo por quem falam os pastores oficiais e suas ovelhas obedientes. Tome-se o caso deste que agora é ministro da Educação.
Sujeito vai discursar no evento de lançamento do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, pega o microfone, limpa o pigarro e castiga.
Os livros antigos do MEC, os sociólogos e os filósofos de certas correntes, ao desconstruírem o estabelecido, deixaram os jovens sem rumo e sem propósitos. A quebra das certezas fez desses jovens verdadeiros zumbis existenciais.
Na pós-modernidade, a juventude não acredita mais em religião, política e família, por isso tira a própria vida.
Pessoalmente, eu li a ladainha do ministro imaginando a voz de um pregador do Porta dos Fundos.
Mas um milagre não se pode negar ao pastor da educação. Discursando logo depois da Damares no tal evento, ele conseguiu eclipsar a fala da ministra dos bons costumes. Não é pouca coisa.
Ainda mais quando uma campanha informal —até o momento— propõe Damares para a vaga de Celso de Mello no STF. Um país tropical e abençoado por Deus, sem vulcões e terremotos, não significa, em absoluto, a ausência de catástrofes.
Mas nem tudo está perdido. Finalizando sua participação no lançamento do Setembro Amarelo, o ministro afirmou ser o escolhido para consolidar os valores e princípios que o presidente preza. Se os suicídios aumentarem, ninguém poderá dizer que não sabe a razão.
Tristes contrastes desses tempos. Enquanto o papa tira o prazer da fogueira, o diabo trata de aumentar a lista de pecados por aqui.
Fora sua atuação bem-sucedida em outras áreas, como a fiscal, perdoando as dívidas das igrejas. Ou a ambiental, com o Pantanal ardendo enquanto passa a boiada. Pasto é que não vai faltar quando, enfim, as chamas apagarem.
O gado agradece, amém.
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