Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

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Cláudia Collucci

Faltam dados sobre tamanho do perigo que coronavírus representa ao mundo

Influenza, vírus da gripe, adoece 5 milhões e mata até 650 mil todos os anos, segundo a OMS.

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De tempos em tempos aparece um novo vírus respiratório para assombrar a humanidade e tirar o sono dos hipocondríacos. Foi assim com a Sars (síndrome respiratória aguda grave), em 2003, e com a gripe suína H1N1 em 2009, por exemplo.

A bola da vez está com o coronavírus, que até a manhã desta terça (28) tinha infectado mais de 4.500 pessoas e provocado a morte de mais de cem delas.

Especialistas internacionais em doenças infecciosas já arriscam dizer que é possível que as medidas de saúde pública adotadas até agora pela China, como a de colocar dezenas de milhares de pessoas em quarentena e proibir viagens, não consigam contê-lo e ele se junte aos outros vírus que já infectam regulamente as pessoas.

Ainda não estão claros o tamanho da gravidade dessa epidemia e muito menos qual seria o impacto da sua disseminação pelo mundo. Hoje há várias linhas de pesquisas sobre as taxas de prevalência e de disseminação. Também há estudos avaliando as ferramentas de saúde pública adotadas que se elas poderiam ser tão eficazes como o foram na epidemia de Sars.

O coronavírus pertence à mesma família que o vírus que causou o surto de Sars e o que provocou surtos esporádicos de Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio) na Península Arábica. Entre o final de 2002 e o início de 2003, o vírus da Sars infectou mais de 8.000 pessoas em todo o mundo, matando quase 800, antes de ser contido. O Mers nunca causou um surto global.

Mas tem um fato novo que preocupa. No caso da Sars, não há transmissão do vírus antes que as pessoas desenvolvam sintomas. Já no coronavírus, pelo o que se sabe até agora, a transmissão ocorre durante todo o período, da infecção aos sintomas. É assim que acontece com o influenza, o vírus da gripe, por exemplo.

Também parece que o tempo de incubação (período entre a infecção e o desenvolvimento dos sintomas) do coronavírus é um pouco menor que o do vírus da Sars  —nesse último caso, a maioria das pessoas desenvolveu sintomas cerca de quatro ou cinco dias após a infecção.

Quanto menor o período de incubação, menos tempo as autoridades de saúde têm para rastrear e colocar em quarentena as pessoas que foram expostas ao vírus.

Os cientistas ainda estão estudando o sequenciamento genético do coronavírus para calcular o número de pessoas que cada uma poderá infectar, em média. Um surto com taxa abaixo de 1 tende a desaparecer.

Mas, segundo reportagem publicada na revista Stat neste domingo (26), vários grupos de pesquisadores calculam que a taxa de de transmissibilidade do coronavírus poderá ficar na faixa de 2 a 3 ou mais.

Caso ocorra uma disseminação contínua, a saída para a contenção só se daria mesmo a partir do desenvolvimento de uma vacina, plano já anunciado por um grupo de biofarmacêuticas, universidades, grupos de saúde e governos.

No vácuo de dados sobre o tamanho verdadeiro do perigo que essa epidemia de coronavírus representa ao mundo, nunca é demais lembrar que o vírus da gripe, o influenza, representa uma ameaça real todos os anos.

​Liz Szabo escreveu sobre isso na Kaiser Health News no último sábado (25). Ela relata que nos EUA, somente neste inverno no hemisfério Norte, iniciado em dezembro, a gripe adoeceu pelo menos 13 milhões de americanos, hospitalizou 120 mil e matou 6.600 pessoas. E a temporada nem chegou no auge.

"Quando pensamos no risco relativo deste novo coronavírus e do influenza, não há comparação", disse William Schaffner, professor de medicina preventiva e política de saúde no Vanderbilt University Medical Center, em Nashville (Tennessee). "O coronavírus será um pontinho no horizonte em comparação. O risco é trivial."

Em todo o mundo, a gripe causa cerca de 5 milhões de casos de doenças graves e mata até 650 mil pessoas todos os anos, segundo a OMS. Em 2018, o Brasil registrou 839 mortes por influenza. No ano passado, até julho, foram contabilizadas 339 mortes pelo Ministério da Saúde.

Nessas horas de assombro diante de um vírus novo, nada como colocar as coisas em perspectiva e esperar as evidências acumuladas antes de cair no desespero. Mas isso não quer dizer que os governos não devam já estar preparados para o impacto desse novo patógeno aos serviços de saúde.

E o que cabe a nós por enquanto? Adotar medidas que valem para prevenir qualquer tipo de gripe, como lavar as mãos com água e sabão frequentemente, evitar tocar a boca, nariz e olhos e manter hábitos saudáveis como alimentação balanceada, atividades físicas e ingestão de líquidos.

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