Será que a personalidade individual tem relação com a personalidade das pessoas que vivem na mesma cidade? Será que as cidades têm personalidade própria?
Quando as pessoas mudam para outras cidades, geralmente, pensam como serão os novos vizinhos, o novo local de moradia e todas as transformações associadas ao novo endereço. Contudo, normalmente, não consideram a influência que essa locomoção poderá causar nelas próprias.
Pesquisa publicada em 2016 pela revista Psychological Science, e realizada em 860 cidades dos EUA, sugere que, ao se mudar para uma nova cidade, um fator incomum deve ser considerado, a personalidade.
O estudo encontrou ligações estatisticamente significativas entre a autoestima e a personalidade das pessoas que vivem na mesma cidade. A pesquisa aponta que uma combinação ideal das características de uma pessoa com as características de seu ambiente pode gerar efeitos benéficos em sua satisfação geral e autoestima.
Para melhor interpretar esse fenômeno, é interessante entender quais traços de personalidade prevalecem em determinadas localidades, e vários estudos têm se concentrado em avaliar como as pessoas em determinados lugares abordam as relações interpessoais. Artigo publicado pelo Journal of Research Personality, por exemplo, explora as diferenças de atitudes nos relacionamentos românticos. Pesquisa com 127 mil adultos nos EUA mostrou que os moradores das cidades da Costa Leste são mais ansiosos em seus relacionamentos do que os da Costa Oeste.
Por outro lado, quando determinadas localidades apresentam peculiaridades, como concentrar núcleos de pessoas com características artísticas, esportivas ou religiosas, outras com inclinações similares tendem a procurar esses lugares, consolidando, assim, essas particularidades. Isso pode significar que os lugares para onde uma pessoa pretende se mudar podem refletir quem ela é e quem ela pode se tornar.
Os estudos mostram, ainda, que a ambiência tem um papel extremamente relevante na formação das pessoas. Portanto, não só os aspectos sociais e estruturais que compõem uma cidade podem ter uma grande influência no comportamento e na personalidade de seus habitantes, mas também as condições climáticas, por exemplo.
Estudo publicado, entre outros, por pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade de Stanford, nos EUA, observou que uma primavera agradável melhora o humor das pessoas e até mesmo a memória, enquanto comportamentos agressivos podem piorar com a elevação da temperatura ambiente.
Entretanto, a influência mais vigorosa para alguém que se muda de uma cidade para outra pode ser o chamado “contágio social”. As pessoas tendem a absorver valores culturais e práticas daquelas que as rodeiam. Segundo Mark Schaller, pesquisador da British Columbia University, a suscetibilidade social pode ser um dos mais importantes fatores para encorajar novos residentes a reforçar alguns traços de personalidade e atenuar outros. Por exemplo, uma pessoa que vive em uma comunidade de pessoas felizes pode se tornar uma pessoa mais feliz; por outro lado, adultos que se mudam para locais onde estão em minoria ideológica, muitas vezes se sentem isolados e incapazes de absorver a perspectiva dos outros.
De fato, as cidades constroem sua personalidade a partir da personalidade de seus habitantes, em um processo interativo contínuo, que passa por alternâncias ao longo do tempo. Sem dúvida, mais estudos e pesquisas são necessários para ampliar a base de conhecimento desse processo extremamente relevante para o bem-estar das pessoas, e que depende de compreendermos com maior profundidade a formação da personalidade das cidades.
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