Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Israel dinamita o acordo com o Irã

Governo de Netanyahu dá para Trump trunfo para romper o acerto sobre programa nuclear de Teerã

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, faz apresentação em Tel Aviv sobre o programa nuclear iraniano
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, faz apresentação em Tel Aviv sobre o programa nuclear iraniano - Jack Guez/AFP

O Mossad, o serviço secreto israelense, acaba de dar a Donald Trump um maço de documentos factuais que servem como uma luva para que o presidente americano faça o que pretendia mesmo fazer, com ou sem os documentos: dinamitar o acordo de 2015 entre o Irã, Estados Unidos e cinco outras potências em torno do programa nuclear iraniano.

Posto de outra forma: oferece uma capa de legitimidade a uma decisão que seria apenas voluntarista.

Segundo o primeiro-ministro Biniyamin Netanyahu, arquivos iranianos capturados pelo Mossad demonstram que o Irã trabalhou para desenvolver armas nucleares, mentiu à comunidade internacional a esse respeito e, como se fosse pouco, deu os passos necessários para assegurar que pode prosseguir na busca da bomba mesmo na moldura do acordo de 2015.

A versão iraniana sempre foi a de que seu programa nuclear era apenas para aplicações pacíficas.

É difícil pôr em dúvida as afirmações de Netanyahu por estarem apoiadas em 55 mil páginas e em 55 mil arquivos em CDs, de acordo com o premiê israelense. Há apenas um senão: desde 2015, desde que o acordo foi assinado, o arquivo capturado não conteria um “smoking gun” (metáfora comumente usada para designar uma prova conclusiva).

A observação foi feita na TV israelense por um especialista, Amos Yadlin, ex-chefe da inteligência militar no Exército israelense. Mas Yadlin acrescentou que a falta de evidência conclusiva a partir da assinatura do acordo pode se dever apenas ao fato de que as informações não estavam ainda arquivadas -e, consequentemente, não podiam estar no pacote roubado pelo Mossad.

Do ponto de vista de Trump, esse detalhe é, de todo modo, irrelevante. Desde a campanha eleitoral, ele deixara claro que pretendia romper o acordo com o Irã ou renegociá-lo.

O “timing” do anúncio de Israel é perfeito do ponto de vista dos contrários ao acordo: no dia 12, Trump tem que manter a suspensão das sanções ao Irã ou reintroduzi-las. Se já condenava o acordo antes, com as revelações desta segunda-feira (30), parece óbvio que vai usá-las como prova conclusiva de que esteve sempre certo.

Reintroduzir as sanções ou, em hipótese extrema, retirar-se do acordo terá efeito similar: o Irã não aceita nem uma coisa nem a outra e reagirá com a mesma dureza. Ou seja, reiniciará a busca de armas nucleares e voltará a introduzir um elemento de forte tensão em uma região que está muito distante de ser um oásis de tranquilidade.

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