Cristina Serra

Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Cristina Serra
Descrição de chapéu aborto

Aborto, cidadania e democracia

Autoridades precisam entender que nós, mulheres, temos o direito supremo sobre nossos corpos, vidas e escolhas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Suprema Corte dos EUA fez o país andar meio século para trás ao derrubar o entendimento de que o aborto era um direito constitucional das mulheres. Agora, estados conservadores poderão proibir o aborto por meio de legislações locais. Permitir que governos interfiram dessa forma em assunto tão íntimo é uma violência suprema contra as mulheres.

Aqui no Brasil, o risco de retrocesso é ainda maior. Embora o aborto em decorrência de estupro seja permitido por lei desde 1940, nem todas as brasileiras têm a garantia de que conseguirão acesso a esse direito, como ficou claro no caso da menina de 11 anos, de Santa Catarina, violentada e grávida.

Em razão de alguma crença fundamentalista, um médico, uma promotora e uma juíza tentaram impedir o aborto (não conseguiram, felizmente). Que fique claro: o feto resultante de um estupro é a sequela de uma violência e nenhuma mulher deve ser obrigada a carregar no ventre o produto de um crime.

Outro caso também expôs uma teia de abusos e constrangimentos contra uma vítima de estupro. Refiro-me à atriz Klara Castanho, 21 anos. Em um relato dilacerante, ela revelou que, ao descobrir a gestação, decidiu dar o bebê para adoção, direito garantido em lei. Ainda assim, Klara passou por profissionais incapazes de protegê-la em momento de extrema vulnerabilidade: um médico, uma enfermeira e abutres que não merecem ser qualificados como jornalistas.

Falsos moralismos e preceitos religiosos servem apenas para turvar a discussão e perpetuar o ciclo de violências contra as mulheres. Proibir ou dificultar o aborto, em qualquer tempo e lugar, não vai impedi-las de buscar a interrupção de uma gravidez indesejada. Só vai tornar tudo mais doloroso.

Autoridades precisam entender que nós, mulheres, temos o direito supremo sobre nossos corpos, vidas e escolhas. Enquanto não alcançarmos esse patamar civilizatório, continuaremos sendo cidadãs de segunda classe, vivendo em democracias pela metade.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.