Daniela Lima

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Daniela Lima
Descrição de chapéu Eleições 2018

Assassinato de mestre de capoeira mostra que é preciso reavivar os valores básicos

Chore por Moa do Katende, candidato

Moa do Katende, 63 anos, assassinado com 12 facadas na madrugada de segunda (8), logo após o resultado do primeiro turno, não pode ter morrido em vão.

Ele era mestre de capoeira e foi atacado de maneira covarde por um simpatizante de Jair Bolsonaro (PSL) após declarar preferência pelo PT. Todo eleitor do capitão reformado que rechaça o uso da violência como instrumento de luta política deveria chorar seu destino.

Na mesma segunda, a Polícia Civil de Porto Alegre recebeu uma queixa. Uma jovem de 19 anos alega ter sido atacada por três homens, apoiadores de Bolsonaro. Ela disse ter sido ameaçada e agredida. Ostenta agora um desenho que emula uma suástica talhado na altura da costela. A obra teria sido feita com um canivete por um dos que a atacaram. 

 

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o delegado que investiga o caso tratou de esclarecer que a investida não parece neonazista porque a suástica foi desenhada de maneira errada. "O que temos é um símbolo milenar religioso budista. Símbolo de amor, paz e harmonia", disse Paulo César Jardim. Não, não é piada. 

Seguidores do deputado nas redes sociais se apressaram em insinuar que a menina pode ter se automutilado. Ela é lésbica, estava com um adesivo #EleNão. A esquerda, apontaram alguns apoiadores de Bolsonaro, é mestre em simular ataques. Ótimo, então, aguardemos a apuração dos fatos pela polícia. 

Mas a declaração do delegado acendeu luz amarela. Se quem está encarregado de investigar o que a vítima chama de ataque diz que o símbolo que teria sido marcado na pele dela é de “paz, amor e harmonia”, algo está errado.

Bolsonaro tem o apoio declarado de alguns policiais, promotores, procuradores, juízes e desembargadores. Por isso mesmo esses profissionais devem redobrar os cuidados sobre sua atuação.

Na eleição mais polarizada desde a redemocratização, tudo o que não precisamos é da suspeita de que o aparato estatal de proteção ao cidadão começou a se mover de acordo com conveniências políticas e, pior, sendo desrespeitoso com quem se apresenta como vítima.

Pouco antes das eleições a repórter Ana Nery, da Rádio Bandeirantes, tomou uma cabeçada de um eleitor de Bolsonaro ao cobrir uma manifestação em São Paulo. Ela estava na frente de um pelotão da polícia, que apenas afastou o agressor, sem tentar detê-lo pelo ato.

É preciso reavivar os valores básicos nesta eleição. Ninguém merece apanhar ou morrer por suas posições políticas ou por estar simplesmente fazendo seu trabalho. Ninguém. Relativizar esse tipo de agressão é um desserviço à candidatura de Bolsonaro, à democracia e ao país.

A voz de eleitores moderados do deputado precisa se sobrepor à dos radicais. Não é possível que quase 60% dos brasileiros apoiem o convencimento na base da pancada. É?

 

Questionado sobre os sucessivos casos de agressões feitas em seu nome, Bolsonaro primeiro disse:

"Quem tomou a facada fui eu! O cara que tem uma camisa minha comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso. Mas não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam".

Na noite desta quarta (10), subiu o tom. “Dispensamos o voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim”. O candidato parece ter visto que tem, sim, muito a fazer. Ele tem dupla autoridade para pedir moderação à sua patota: não só por ser o alvo da adoração de seus apoiadores, mas por ter sido ele próprio vítima de um abominável ataque de ódio

Bolsonaro está em vantagem na corrida presidencial. Eleito, terá de governar para todos, inclusive para os petistas, para as feministas, para os gays, para os militantes de movimentos sociais. Chore por Moa, candidato.

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