Burocrático. Discreto. Irregular. Esses são os elogios mais otimistas para um peladeiro comum. E Pedro era comum.
Média de um gol por jogo, que no universo das peladas, devido à fragilidade (e principalmente má vontade) dos goleiros, é bem medíocre.
Talvez, se tivesse tido mais planejamento e contabilizado seus gols desde os cinco anos de idade (na infância se toma muito gol bobo), já teria uma marca que muito atacante profissional enche a boca para divulgar. Dos cinco aos seis anos, inclusive, Pedro era bastante veloz, mas a partir dos sete começou sua decadência física e mental.
Entretanto, aos 18 anos um novo mundo se abre diante dos jovens: o futebol do primeiro período da universidade é a grande oportunidade de todo peladeiro sonhador. O que há ali, em meio a totais desconhecidos, é mais que um esporte amador muito mal jogado. É a esperança de redenção, de jogar sem o peso do olhar dos que conhecem seu futebol.
E assim que iniciou-se a partida, pela primeira vez em anos, Pedro pediu uma bola e recebeu. Talvez justamente por não ter tido tempo de ficar inseguro com lembranças de todas as bolas que nunca havia dominado, Pedro esticou-se de supetão e amansou-a como a um animal de circo fortemente sedado. Como que em câmera lenta, foi deixando para trás todos os adversários (talvez literalmente em câmera lenta, já que eram todos meio pesados) e disparou um petardo certeiro no ângulo.
O goleiro, talvez pela impotência de suas ações, talvez pela total falta de interesse em ser um bom goleiro, só observou a bola entrando. Gostaria de dizer que estufou a rede, mas como não havia rede, acabou atingindo uma aluna de administração que comia um folhado de frango na cantina.
O fato é que foi um golaço. Mais do que a confiança dos novos colegas, Pedro agora tinha a confiança de si mesmo. E foi então que, num golpe de mestre, levou a mão ao posterior da coxa, onde se contundem os grandes craques, e saiu mancando. Fingindo contusão, Pedro deixou os gramados, no auge, para nunca mais retornar.
Pode parecer mesquinho, mas esse ato fez de Pedro, o peladeiro comum, que só teria a perder se continuasse jogando, o maior jogador do curso de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo até hoje. E seu segredo está seguro comigo.
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