Daniel Furlan

Ator, comediante e roteirista, é um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o programa "Choque de Cultura".

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Daniel Furlan

O Show dos Sonhos

A plateia não teria escolhas a não ser atirar-se aos nossos pés

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Ilustração para a coluna de Daniel Furlan de 10.jun.2019
Cynthia Bonacossa

O grande objetivo da banda era tocar no Camburi Vídeo, uma videolocadora esquecida pela defesa civil e pela vigilância sanitária que nas noites dos fins de semana virava palco de grupos de rock locais, que naquele ambiente insalubre com o teto ameaçando desabar embalavam os menores de idade em seus inesquecíveis primeiros usos abusivos do álcool e rejeições por parte da pessoa amada. E, é claro, alimentavam nosso projeto de um dia nos apresentarmos em frente a uma plateia.

Entretanto, iludidos pelas falsas promessas do trabalho árduo, ensaiávamos obsessivamente numa despensa e não compreendíamos como isso poderia se conectar com um convite para uma apresentação ao vivo. Mas como toda banda patética iniciante, admirávamos e bajulávamos uma outra banda patética menos iniciante, que nos orientou a “participar mais ativamente da cena”, o que para nós, na prática, significou rondar o Camburi Vídeo mesmo quando não tínhamos o menor interesse em entrar. 

O fato é que numa dessas noites de pouco público e sonhos pouco a pouco se esvaindo, a banda que deveria se apresentar não compareceu, e o promoter, com seu poder de raciocínio já bloqueado pelo desespero, viu em nós, aqueles três jovens que regularmente imploravam para tocar ali, uma solução imediata (e, mais importante, gratuita) para o seu problema.

“Vocês ainda querem tocar?”

Em êxtase, corremos para o local onde ensaiávamos para buscar os instrumentos. Então era mesmo verdade quando diziam que, quando você trabalha duro e acredita nos seus sonhos, a oportunidade aparece. Praticamos por meses, colocamos nosso coração e alma em cada música e a sorte literalmente caiu no nosso colo enquanto estávamos sentados num meio-fio na frente da locadora.

Era mais do que justo. Era divino. Era um conto de fadas com o diferencial do último capítulo ser um show nosso, autoral, para uma plateia que —não tínhamos dúvida— não teria escolha a não ser atirar-se aos nossos pés em adoração instantânea devido à visceralidade de nossas canções e à potência da nossa performance. Numa videolocadora.

Voltamos ainda esbaforidos, com instrumentos em mãos, e o promoter, agora mais calmo, disse que o público acabou todo indo embora, portanto ele estava cancelando a noite, incluindo o nosso show.

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