Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Deborah Bizarria

Sou evangélica; por que isso te incomoda?

Crítica é visão limitada tanto do que significa ser evangélico quanto sobre a motivação da declaração de fé

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Desde a estreia da minha coluna aqui na Folha quase sempre aparecem nos comentários alguns incomodados com a palavra "evangélica" constar na minha bio. Em vez de criticar os meus argumentos ou apontar as limitações dos estudos que eu trago, alguns leitores preferem só apontar uma característica da minha identidade como negativa.

"Perdeu a credibilidade, quando se intitula evangélica", "Por que a autora do artigo indica, na biografia abaixo de seu nome, que é 'evangélica'?", "Ela achou mesmo que ser evangélica é um bom identificador profissional?", "Esperar o quê de uma colunista que se apresenta como economista evangélica? Parece que ela rezou muito e estudou pouco". São alguns dos comentários comuns, independente do tema do artigo publicado.

Esse tipo de comentário provavelmente vem de uma visão limitada tanto do que significa ser evangélico quanto sobre a motivação da declaração de fé na bio.

31ª Marcha para Jesus: evangélicos acompanham apresentação de shows em palco montado ao lado do aeroporto Campo de Marte - Eduardo Knapp -8.jun.23/Folhapress

Sobre o primeiro ponto, parte é causada por grupos relevantes de evangélicos que promovem cultos com políticos, intolerância contra outras religiões e contra minorias. São atitudes reprováveis, sem dúvidas.

Contudo, em um universo de pessoas que somam cerca de 30% da população, vale ser preconceituoso com qualquer indivíduo crente só porque muitos evangélicos têm um comportamento errado? Além de injusto, julgar alguém por causa da sua religião é uma atitude que piora o debate público, pois perpetua um ciclo de preconceito e intolerância.

Apesar de saber que estavam incomodados, decidi expor minha religião não só por questão de transparência, mas, principalmente, por representatividade. É seguro dizer que há poucas pessoas francamente religiosas na grande mídia ou mesmo entre economistas que participam do debate público.

Em um país com tantas pessoas religiosas e com tanta influência religiosa na política (ainda que eu discorde da forma), por que não faria sentido dizer que sou evangélica?

Felizmente, não recebi só comentários ruins sobre religião.

Corriqueiramente recebo mensagens de estudantes de economia que são evangélicos felizes por saber que há alguém como eles que tem espaço na mídia. Ou, ainda, mensagens de apoio vindas de cristãos não-bolsonaristas sobre como é importante ter alguém para desmistificar a ideia que muitos têm sobre todos os evangélicos.

Para sair desse clima de divisão, é fundamental assumir alguns compromissos.

O primeiro é que no Estado democrático nenhuma religião ou grupo político pode se sobrepor aos demais. O segundo é que religião e espiritualidade são elementos legítimos na formação da identidade das pessoas, tal qual sua trajetória de vida e sua ideologia política.

Como propõe um artigo do professor Tariq Modood, é necessário fortalecer o secularismo moderado que reconheça os papéis positivos de várias religiões no espaço público e que busque conciliar as demandas de diferentes grupos religiosos. Fazendo com que os Estados modernos sejam capazes de enfrentar os desafios de se tornarem pluralizados ou multiculturais.

Declarar-me evangélica na mídia é expressar uma parte da minha identidade, comum a muitos brasileiros.

Defendo que em um debate público amplo é importante reconhecer papéis e demandas religiosas sem privilegiar ou discriminar. Essa é a visão de sociedade aberta que eu quero ajudar a construir neste espaço, e, por isso, o termo "evangélica" vai continuar na minha bio enquanto a coluna existir.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.