Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Deborah Bizarria
Descrição de chapéu China

Debate das Tarifas de Importação: 90% de imposto é demais

Soma de ICMS e imposto de importação faz brasileiros pagar mais do que vizinhos por produtos importados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Se você tem redes sociais e faz compras pela internet deve ter visto o debate sobre imposto de importação para pessoas físicas e o aumento da fiscalização das compras online em plataformas estrangeiras. De um lado, o governo federal quer aumentar arrecadação e alguns produtores nacionais querem ser blindados de concorrência externa. Do outro, consumidores e empreendedores que preferem ou dependem de produtos importados estão insatisfeitos com o valor da taxação. Mas como funcionava antes e o que mudou?

A regulação determinava que compras por pessoas físicas em lojas estrangeiras era sujeita a 60% de imposto federal, mais o ICMS a ser definido pelos estados. Contudo, devido a deficiências de fiscalização, muitas pessoas conseguiam realizar as compras sem serem cobradas pela Receita —seja porque passou batido no volume de encomendas, seja porque a loja de origem se passou por uma pessoa física, que teria direito à isenção da taxa. Ou seja, na prática, muitas pessoas sequer conheciam a taxa e suas regras, dado que a aplicação na ponta não era uniforme ou sistemática.

Shein apresentou nova coleção feita no Brasil, como parte do acordo fechado com o governo brasileiro para investir R$ 750 milhões no país dentro de três anos. Mão feminina, com unhas pintadas de rosa, segura cabide com alças de madeira, que sustentam uma camisa roxa.
Shein apresentou nova coleção feita no Brasil, como parte do acordo fechado com o governo brasileiro para investir R$ 750 milhões no país dentro de três anos - Rubens Cavallari/Folhapress

Na regulamentação deste momento, compras de até US$ 50 (R$ 249) de plataformas estrangeiras seriam isentas do imposto federal, mas valores superiores pagariam 60% de imposto federal adicionados de 17% de ICMS. Devido a forma peculiar de cálculo do ICMS, a alíquota efetiva supera os 90%, isto é, o comprador paga quase o dobro do valor original. Além disso, no novo modelo, as taxas são pagas no ato da compra, reduzindo a incerteza e garantindo a cobrança. Naturalmente, as pessoas que adquirem importados online reagiram negativamente ao valor da taxação.

A questão na mesa não é se produtos importados devem pagar algum imposto. Afinal, se produtos vendidos no Brasil pagam impostos, é razoável também cobrar daqueles que são importados. Mas pagar quase o dobro em uma compra que muitas vezes sequer tem um equivalente produzido nacionalmente prejudica consumidores e pequenos negócios brasileiros.

O que esse debate traz à tona é o fato de que aqui paga-se anormalmente mais impostos por produtos importados do que no resto do mundo. Considerando dados de 2020, apenas 9 países têm tarifas de importação de produtos não agrícolas mais altos que o Brasil. Não é apenas sobre os consumidores comprando diretamente de lojas estrangeiras, mas também sobre o varejo, os serviços e parte da indústria local sendo obrigadas a pagar muito mais caro por insumos que podem aumentar sua produtividade e seu lucro. Caso nossas tarifas de importação seguissem o padrão internacional, os preços gerais de produtos brasileiros teriam uma queda de 5% para o consumidor, de acordo com Marcos Degaut e outros autores que analisaram dados de 57 setores da economia.

Mas fica a questão: se uma redução dessas tarifas a níveis compatíveis com o resto do mundo seria tão positiva, por que o Brasil continua protecionista? As altas tarifas costumam ser fruto da pressão política de grupos pouco produtivos da economia que precisam da proteção da concorrência externa para garantir o mercado consumidor brasileiro. O custo dessa proteção é diluído pelo resto da sociedade que precisa comprar produtos, máquinas e matérias-primas mais caras para garantir a sobrevivência econômica de poucos setores.

Ao invés de propor mais subsídios e desonerações para setores específicos, caso o governo deseje melhorar o ambiente de negócios e o poder de compra da população, deveria propor uma redução das tarifas de importação. O processo de abertura comercial traria benefícios mais amplos para a economia brasileira, incluindo maior competitividade, produtividade e produtos mais baratos para os consumidores.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.