Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Deborah Bizarria

Kate Middleton e nossa atração por teorias conspiratórias

Sem informações claras e precisas é difícil apaziguar a curiosidade das pessoas

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Desde o último Natal, a ausência de Kate Middleton, a princesa de Gales, alimentou inúmeras especulações. Embora a família real tenha mencionado uma cirurgia abdominal no início do ano, a falta de detalhes e de aparições da princesa só aumentou as especulações sobre o seu sumiço de eventos públicos. A divulgação de uma foto manipulada de Kate com seus filhos apenas intensificou-as, levantando dúvidas sobre a transparência do palácio. Recentemente, outra imagem com o príncipe William também foi alvo de desconfiança nas redes sociais.

Enquanto escrevia este artigo, a realeza divulgou um vídeo em que Kate relata estar se tratando de um câncer. A sua ausência se devia ao tratamento e à necessidade de comunicar a situação aos poucos aos filhos pequenos.

Apesar da resolução, essa situação e o burburinho que a envolve fornecem uma oportunidade para analisarmos não apenas as teorias conspiratórias em si mas também o que as alimentam e as estratégias para combatê-las. Uma investigação conduzida por Karen Douglas e outros autores resume os motivos psicológicos por trás da propagação dessas teorias. Eles identificam três necessidades fundamentais que impulsionam a crença nessas narrativas complexas: motivações epistêmicas, existenciais e sociais.

Kate Middleton e o príncipe William, em 2010 - Suzanne Plunkett/Reuters

As motivações epistêmicas seriam aquelas relacionadas ao desejo humano de compreender o ambiente e buscar explicações causais para os eventos, o que torna as teorias conspiratórias particularmente sedutoras. Quando prometem oferecer entendimento, precisão e certeza subjetiva, essas teorias se tornam uma narrativa tentadora.

Além delas, as motivações existenciais, que envolvem o desejo de controle e segurança no ambiente, fazem com que acreditar em conspirações ofereça uma ilusão de controle sobre um mundo complexo e em constante mudança.

Ao mesmo tempo, as motivações sociais também desempenham um papel crucial na disseminação dessas teorias. A adesão a narrativas conspiratórias muitas vezes serve à necessidade de manter uma imagem positiva de si mesmo ou do grupo social ao qual se pertence.

O pertencimento a uma comunidade que compartilha crenças semelhantes pode oferecer uma sensação de segurança e aceitação, uma vez que algumas teorias refletem os valores do grupo que as compartilha. Por exemplo, no caso de Kate, as especulações sobre sua ausência incluíam teorias que refletem diferentes visões sobre a monarquia. Alguns sugeriam que ela teria passado por uma cirurgia estética mal-sucedida, alinhada à percepção de que a monarquia é supérflua. Outras teorias sugeriam que ela teria doado um rim ao rei Charles, assim percebida como mais altruísta do que vaidosa.

A maneira como a família real resolveu lidar com todas essas especulações apenas as alimentou. A falta de transparência, em relação à saúde de Kate e a divulgação de uma foto pesadamente editada só alimentaram a desconfiança pública, dando mais margem para teorias conspiratórias.

Para lidar com esse tipo de desafio, o pesquisador Péter Kréko propõe estratégias para combater as teorias conspiratórias. Entre elas, destaca-se a contra-argumentação racional, que envolve apresentar informações precisas e verificáveis que desmintam diretamente as alegações infundadas.

Além disso, Kréko enfatiza a sensibilidade quanto às preocupações e medos das pessoas que são suscetíveis a essas teorias. Isso implica uma abordagem compreensiva em lugar de ridicularizar ou menosprezar as crenças alheias. Ao estabelecer uma conexão emocional e compreensão pelos sentimentos subjacentes, seria possível abrir caminho para a redução na adesão às teorias conspiratórias.

O caso do sumiço da princesa foi solucionado sem grandes consequências. A aparente inabilidade do palácio em lidar com os rumores do caso deve servir de alerta para autoridades e instituições ao lidar com especulações e rumores. Sem que se forneça informações claras e precisas, respondendo às preocupações do público de maneira aberta e honesta, será cada vez mais difícil apaziguar a curiosidade das pessoas na internet.

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