Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

Em inglês, duas palavras para 'liberdade'

Nós, liberais, acreditamos que a liberdade negativa leva à 'liberdade' positiva

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O inglês sempre tem pelo menos duas palavras para qualquer coisa. É principalmente porque os normandos de língua francesa dominaram os anglo-saxões em 1066.


Um exemplo importante é a dupla de palavras inglesas para a portuguesa "liberdade".

Elas são "liberty", do francês, e afinal do latim, e "freedom", de frēodōm, do protogermânico.

'Liberté, Égalité, Fraternité' estampado no estádio de Wembley após ataques em Paris em 2015 - Adrian Dennis - 16.nov.15/AFP

Até cerca de cem anos atrás, ambas significavam a mesma coisa, ou seja, não ser escravo, ser um homem livre, em inglês "freeman", como os escravos americanos libertos em 1865. Os portugueses, espanhóis e franceses usam a palavra latina e os alemães, holandeses e suecos usam a palavra germânica. Diferentemente do que ocorre com o inglês, há apenas uma palavra nesses idiomas.

E daí? Em inglês, a palavra românica "liberty" passou a ser praticamente o que significa em português e em alemão. O filósofo inglês Isaiah Berlin chamou-a de liberdade "negativa", ou seja, não estar sob ordens coagidas. A que ele chamou de liberdade "positiva" —"freedom"— é a capacidade de fazer coisas, como voar para Paris amanhã ou comprar uma casa grande.

Mas já temos palavras para essa liberdade positiva: riqueza, renda, bens, ter "capacidades". No entanto, "freedom" passou a significar não ser escravo e também ser rico. O presidente Roosevelt, em 1941, falou sobre Quatro Liberdades. Uma delas era a "liberdade de religião". Boa. Mas outra era "liberdade da necessidade", isto é, da fome.

Nós, liberais, acreditamos que a liberdade negativa leva à "liberdade" positiva. Mas é uma hipótese, não uma tautologia. Os falantes de inglês, mesmo o grande economista Amartya Sen, não conseguem entender isso direito. Um apelo à crença universal de que não devemos ser escravos é usado para apoiar a crença altamente controversa de que Pedro deva ser tributado para pagar Paulo.
Mas vocês, falantes de português ou de alemão, não são inocentes.

Em todas as línguas modernas, outra palavra, "direitos" ou "rights" ou "Rechte", se afastou de seu antigo significado de "permissões específicas" para um "direito" a alimentação, moradia, saúde, educação, como as centenas de vezes em que "derecho" é usado na proposta de Constituição chilena, cerca de 60 vezes apenas na Declaração de Direitos, incluindo um "direito ao esporte".

Nosso respeito pela liberdade negativa está caindo no argumento por um cenário positivo expandido.
Não. Vamos defender abertamente o novo "direito", em vez de abreviar o argumento colocando-o na própria definição de um humano não escravizado.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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