Demétrio Magnoli

Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.

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Demétrio Magnoli

Imaginando o ano novo

Um roteiro para um 2023 genuinamente feliz

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O mercado profetiza um início de governo assaltado por repiques de juros que anunciam um horizonte sombrio. A extrema direita sonha com um desastre iminente, acompanhado por atos golpistas multitudinários. Mas, e se 2023 surpreender? Como seria um ano novo genuinamente feliz? Eis um roteiro imaginário.

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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva - Carla Carniel-15.dez.22/Reuters 

1. Haddad adota um plano formulado por Persio e Armínio

Março. O ministro da Fazenda levou ao Congresso sua proposta de nova ancoragem fiscal anticíclica. Nas fases de crescimento, faremos elevados superávits primários; nas de recessão, produziremos déficits, irrigando a economia. Como resultado, a dívida pública decrescerá paulatinamente como proporção do PIB. De passagem, Haddad anunciou que o governo gastará de fato, em 2023, apenas cerca de dois terços do espaço fiscal aberto pela PEC da Transição.

O mercado reagiu derrubando os juros futuros. O BC cortou a Selic em um ponto e anunciou viés de baixa. A Bolsa subiu, o dólar desceu, os empresários anunciaram vultosos investimentos. Haddad prometeu finalizar, até junho, o projeto de reforma tributária desenhado por Appy –e antecipou que a carga total de impostos não crescerá. Em maio, o boletim Focus previu alta do PIB de 3% e inflação no centro da meta.

2. Flávio Dino e José Múcio desmantelam as articulações golpistas

No início de janeiro, por ordem de Dino, forças policiais dissolveram os acampamentos bolsonaristas instalados à frente dos quartéis. Inquéritos provocaram dezenas de prisões de financiadores e articuladores do golpismo. Fevereiro: Múcio exigiu dos comandantes militares a plena obediência à autoridade presidencial –e trocou um comandante refratário, transferindo-o para a reserva. Os militares da ativa receberam ordem para fechar suas contas em redes sociais.

Em agosto, o Congresso aprovou a lei que proíbe manifestações políticas de militares da reserva remunerada. No mesmo mês, um juiz de Brasília declarou Bolsonaro réu por crimes contra a saúde pública. Simultaneamente, o Ministério da Cultura expôs o projeto de criação de um Museu sobre a Ditadura Militar, inspirado no Museu do Aljube, de Lisboa, e financiado em parceria público-privada.

3. Turnê internacional do presidente sinaliza os eixos de política externa

Nas visitas sucessivas a Washington e Pequim, em fevereiro, Lula reafirmou as parcerias paralelas com EUA e China, rejeitando alinhamentos geopolíticos. Na Europa, em abril, desatou os nós que emperravam o acordo Mercosul/União Europeia. A viagem concluiu-se com uma visita surpresa a Kiev. No gabinete de Zelenski, Lula condenou a agressão russa, defendendo a integridade territorial ucraniana.

Marina Silva acompanhou o presidente nas visitas, expondo o cronograma do governo rumo à meta de desmatamento zero e firmando acordos de transferência de tecnologias de energia solar com a China e eólica, com a Alemanha. Na França, Alexandre Silveira, das Minas e Energia, anunciou parceria para a retomada do programa nuclear brasileiro.

Durante a turnê europeia de Lula, Mauro Vieira visitou Caracas, reunindo-se com Maduro e com líderes da oposição. O Itamaraty afirmou que o Brasil quer operar como mediador para a realização de eleições livres e justas na Venezuela. À imprensa internacional, Lula declarou que "não existem ditaduras virtuosas, de direita ou esquerda".

4. Lula repete que a crítica faz bem

"Não deixem de cobrar. Não precisamos de puxa-sacos. Governo precisa ser cobrado." No discurso de posse, Lula repetiu sua pouco divulgada afirmação de campanha. Depois, em várias entrevistas, esclareceu que não falava apenas para sua base política, mas para todos. Antes de partir para Washington, discordou de um manifesto petista que volta a reivindicar o "controle social da mídia". Segundo o presidente, "qualquer governo erra" e, por isso, "precisa ouvir os que divergem".

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