Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Antonio Pitanga: gigante das artes

Com Camila e Rocco, ator está em cartaz com a peça 'Embarque Imediato'

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Para pessoas negras, sobretudo no Brasil, o reconhecimento em vida é algo infelizmente raro. 

O apagamento de saberes, trabalhos e demais contribuições que constituem muitas vezes as bases fundantes obedece a um projeto colonial de desconstituir e branquear a memória deste país. Não se conta quem foi Dandara, quem foi Luísa Mahin, quem foi Luiz Gama, quem foram os precursores do samba e do axé, entre tantos outros exemplos. Por isso, ter uma pessoa negra reconhecida é algo que preenche o coração de alegria. 

Nascido em Salvador, Antonio Luiz Sampaio assumiu o nome Antonio Pitanga após o sucesso de “Bahia de Todos os Santos”, quando interpretou um malandro que levava esse nome e, assim conhecido, marcou seu nome no rol dos maiores atores brasileiros de todos os tempos. 

Ilustração de Antonio Pitanga sorrindo. Ele usa um chapéu amarelo e uma camisa azul. Há folhagens em volta dele
Linoca Souza/Folhapress

“São 80 anos de vida, são 80 anos de muitas conquistas, muitas vitórias, muitas superações”, afirma Camila Pitanga, especialmente à coluna —filha e atriz que, ao lado do irmão Rocco Pitanga, dá continuidade ao legado do pai nos palcos de teatro e nas telas da televisão brasileira.

Os três Pitangas estão em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “Embarque Imediato”, na qual Antonio contracena com Rocco e que tem a participação virtual de Camila. A peça, de autoria de Aldri Anunciação, narra o encontro entre um jovem negro doutorando brasileiro e um senhor africano, em uma sala de aeroporto internacional onde ambos encontram-se retidos por problemas com seus respectivos passaportes durante uma conexão de voo. 

Confinados na sala de segurança do aeroporto, esse encontro fará com que as duas personagens tenham acesso a informações que vão mudar para sempre suas vidas.

Um pouco da história de Antonio Pitanga pode ser conhecida no longa documental “Pitanga”, dirigido por Camila e Beto Brant. Tive a oportunidade de assistir quando estreou nos cinemas. 

O filme traz sua linha do tempo, passando por seus trabalhos e inspirações no Teatro Experimental do Negro, idealizado pelo grande pensador brasileiro Abdias do Nascimento e com atuação de Ruth de Souza, histórica atriz que nos deixou esse ano. Também fala de sua participação no cinema novo, quando seu protagonismo na atuação ficou marcado na história, assim como sua relação com o diretor Glauber Rocha, e de suas atuações em novelas e em tantas histórias nos mais de 60 anos de carreira de muito pioneirismo. 

O filme costura essa história e dramas políticos, como o exílio em razão da ditadura de 1964, com a movimentada vida amorosa daquele que viveu o romance e vive intensamente a vida. 

Mais do que o reconhecimento a um grande nome da cultura brasileira, honrar o trabalho de Pitanga nos palcos e nas telas serve de inspiração a tantas outras pessoas que buscam referências negras ao se aventurar na arte da atuação. Há de se estudar muito, sem dúvidas, sobretudo quando se busca um trabalho consistente, mas saber as trilhas desbravadas pelos mais velhos e aprender com suas caminhadas é um saber ancestral fundamental. “Quando um negro vai à frente e conquista um espaço, ele pode servir de farol para muitos outros se mirarem. A mesma coisa acontece com as mulheres”, afirma Camila à coluna. 

Camila conta que seu pai mantém a jovialidade característica de sua trajetória, um travesso octogenário que segue em pleno vigor encantando os palcos: “Meu pai teve um protagonismo muito importante no cinema, que resvalou para a política e está aí: aos 80 anos em pleno vigor e fazendo peça de teatro, cinema, série... E está mais jovem do que muitos, até mesmo do que eu”, diz Camila. 

Camila Pitanga define o pai como um grande capoeirista, aquele que soube gingar na vida. Sempre digo que a capoeira é uma das melhores metáforas da vida. Tem horas que é preciso gingar, em outras, atacar.

Em algumas, a gente se defende. Os senhores de engenho julgavam que se tratava de uma dança, mas os negros sempre souberam que era luta. Nesse sentido, penso que Camila define o pai de forma brilhante e inspiradora. Aquele que soube dançar de modo revolucionário e segue, com seu carisma e talento, convidando muitos a dançar também. 

A peça “Embarque Imediato” está em cartaz até o dia 22 de dezembro no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro . Uma grande oportunidade de ver esse gigante das artes em atuação.

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